Gleriani Ferreira (*)
Quem nasceu antes da década de 1980 lembra que só tínhamos refrigerantes em garrafas de vidro.
O Etileno Tereftalato, conhecido pela sigla em inglês PET, chegou no Brasil em 1988, sendo inicialmente utilizado apenas pela indústria têxtil. Em 1993, chegou à indústria de embalagens e revolucionou a produção e consumo de diversos produtos.
Parecia que tínhamos encontrado a solução para todos os problemas: uma embalagem leve, com alta capacidade volumétrica, perfeita manutenção da segurança em todas as etapas (envase, empacotamento, distribuição e utilização final pelo consumidor), além de economizar água por dispensar a lavagem de cascos vazios.
Mas o rumo desta história começou a ser alterado com o crescimento de pesquisas, campanhas e alertas sobre o aquecimento global e as comprovações de que o planeta está chegando ao limite. No Fórum Econômico Mundial de Davos, ocorrido em 2016, a ONU alertou que se não tomarmos medidas imediatas, os oceanos terão mais plásticos do que peixes em 2050.
Os estudos também apontam que, todos os anos, mais de 8 milhões de toneladas de plásticos acabam nos oceanos. Na internet constam vídeos comoventes produzidos após a necropsia em tartarugas, peixes e outras espécies mortas pela ingestão de lixo plástico. O material é prejudicial mesmo em decomposição, pois transformam-se em micropartículas consumidas pelos peixes que, por sua vez, são consumidos pelos homens.
O que fazer? Um caminho é repensar os modelos atuais de embalagens, que frequentemente possuem camadas e mais camadas de papel e plástico até que, finalmente, o consumidor acesse o produto que realmente será utilizado. Grandes indústrias e varejistas têm divulgado planos para eliminar o plástico de único uso nos próximos anos.
No entanto, a queda no preço do petróleo favorece o barateamento do plástico e desestimula o esforço da reciclagem. No Brasil ainda temos o desafio de convencer os governos a desonerar a indústria de reciclagem que, no que se refere ao plástico, tem tributação duplicada já que os impostos incidem sobre o plástico e depois sobre o plástico reciclado.
Nesse sentido, também é hora de seguir os países que já oferecem impostos menores para produtos que foram constituídos com menor uso de recursos naturais ou oferecem maior eficiência energética. Contudo, ainda caberá ao consumidor eliminar hábitos automáticos como descartar materiais plásticos após um único uso.
Qual o problema em reabastecer uma garrafinha com água ou alguma outra bebida e carregá-la para o trabalho ou escola? Que tal reaproveitar os potes de sorvete para guardar alimentos no freezer? E o que você diz sobre a real necessidade de utilizar canudinhos plásticos sendo que você é adulto e não está com nenhuma limitação física?
Nos Estados Unidos, são consumidos 500 milhões de canudinhos plásticos por dia. Trata-se de um produto com vida útil de quatro minutos, fabricado com materiais não-biodegradáveis que levam até 200 anos para se decompor.
Se no passado não tínhamos conhecimento dos danos ambientais, agora temos e essa consciência nos obriga uma mudança de rota.
(*) – Professora, é especialista em rastreabilidade de cadeias produtivas da Universidade Presbiteriana Mackenzie Alphaville.