Marcia Cristina Avelar (*)
Um dos maiores desafios dentro das empresas sempre foi o relacionamento entre chefe e funcionário.
Nos tempos atuais, essa relação tem se tornado mais tranquila, porém, ainda existem muitos empecilhos culturais. Ter liberdade para dizer “não” a um chefe é algo que seria impensável há algum tempo, e ainda é muito complicado. Não falo de dizer “não” apenas por dizer. Há de se considerar uma situação de necessidade, ou de desgaste.
Um exemplo é quando o chefe é workaholic, e está exigindo dos funcionários mais do que o necessário para o bom andamento dos trabalhos – e com isso está prejudicando sua saúde e de seus liderados.
Mas, como dizer ao chefe que ele está trabalhando demais, sem parecer que você é preguiçoso ou descomprometido? Afinal, trabalhar cada vez mais é o ideal, certo?
Errado. Essa é uma das culturas com as quais as empresas ainda têm que lidar. Nem sempre trabalhar mais é trabalhar da melhor forma. Assim, um funcionário esgotado não está preguiçoso, mas sim exausto.
Para observar como lidar com esse tipo de situação, é preciso considerar o lado do líder e o lado do liderado, partindo dos tipos de liderança.
O perfil da liderança dita o perfil da equipe e, muitas vezes, problemas com essa liderança podem ser resolvidos já na etapa da formação da equipe. É importante contratar pessoas com sinergias e características próximas. Quando um líder possui um perfil organizado, baseado no diálogo, mesmo trabalhando exaustivamente, tendo prazos apertados, ele contrata pessoas dispostas ao seu ritmo de trabalho.
Ele planeja suas tarefas e cronogramas exatamente para possibilitar entregas com prazos razoáveis e cobranças com as quais a equipe concordou. O planejamento dá tempo a todos e, mesmo imprevistos conseguem ser remanejados sem que haja prejuízos a longo prazo. Cada um sabe o que fazer e como ser eficiente. Assim, quando é necessário, há toda uma cadeia de processos embasando o funcionário a dizer “não”.
No caso de um líder desorganizado, as coisas se complicam. Isso porque a desordem dele também se reflete na equipe. Não há um plano de ação para definir bem as prioridades. Estão todos sempre correndo contra o tempo e, assim sendo, acaba-se cobrando mais do funcionário, mesmo que ele cumpra horários, entregue o que é pedido e seja um bom profissional. A desordem vem da liderança, que é uma peça chave que não está funcionando bem.
Quando se precisa dizer “não” a esse tipo de líder, pode-se despertar problemas pessoais, pois a pessoa não nota que o erro está na forma dela liderar. Assim, o chefe fica melindrado, o funcionário se torna infeliz, e a relação de trabalho se deteriora até que a equipe tenha de trocar uma das partes ou deixe de funcionar bem.
Argumentar com esse chefe pode até ser possível, e deve-se sempre tentar. O ideal é surpreender. Apresente trabalhos que ele ainda não esperava. Agora, se você já falou com o líder, apresentou bons resultados, e ainda assim ele não ouviu, levar isso para cima pode ser bom para a empresa, e pode trazer resultados positivos para a equipe. É preciso fazer isso com cautela, mas os resultados podem ser positivos, dependendo da forma como a colocação é feita.
Se o diálogo não for suficiente, talvez o melhor caminho seja você mesmo buscar uma outra oportunidade. Um líder ruim desfavorece a criatividade da equipe, poda suas melhores ações. Buscar uma nova empresa, onde modelos antiquados de liderança estejam descartados, pode te fazer muito bem. Afinal, uma empresa existe para crescer e para desenvolver quem ali trabalha. Para extrair o potencial máximo de alguém é preciso criar um ambiente de trabalho saudável e eficiente.
Às vezes, é melhor dizer “não” para a empresa e não apenas para o chefe.
(*) – É Diretora de DHO da NVH Talentos Humanos, empresa do Grupo NVH (http://nvh.com.br/2017/talentos/).