Queda nas vendas foi conjuntural e não indica tendência
A expressiva redução do volume de vendas do setor automotivo registrado em janeiro precisa ser avaliada dentro de um contexto para não gerar ruídos.
Os emplacamentos caíram – 40% sobre dezembro e -26,1% comparados a janeiro de 2021, segundo a Anfavea. A queda, contudo, não indica uma tendência e, sim, era esperada por causa de questões pontuais.
O primeiro bimestre costuma ter piores médias de vendas no ano, devido às paradas nas fábricas, feriados, férias escolares e natural desaquecimento após a alta que geralmente ocorre em dezembro.
Carga negativa
Mas neste janeiro, especialmente, outros fatores contribuíram para o resultado: além do desequilíbrio na cadeia de suprimentos, houve chuvas acima da média, variante Ômicron do Coronavírus, afetando fábricas, fornecedores e varejo, e a transição do sistema de emplacamentos.
Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, explicou sobre o novo sistema da Senatran. “O novo Registro Nacional de Veículos em Estoque, o Renave, desburocratizou e trouxe maior segurança ao processo digital de licenciamento. A curva de aprendizado dos agentes da Secretaria Nacional de Trânsito atrasou alguns licenciamentos de carros vendidos em janeiro, mas a situação já está normalizada”, acrescentou o dirigente.
Enquanto em janeiro foi registrada média de 6 mil carros licenciados por dia, no começo de fevereiro já houve melhora para média 7,2 mil diários.
Alta dos juros e inflação também preocupam
A Fenabrave, que reúne os distribuidores de veículos, também citou as chuvas e a nova variante ômicron como fatores de redução de vendas. “O resultado é conjuntural e acontece, principalmente, em função dos baixos estoques das concessionárias, da persistente falta de produtos e, também, devido à sazonalidade do período”, diz José Maurício Andreta Jr., presidente da Fenabrave.
Preocupam a entidade a alta nas taxas de juros, por restringir a aprovação de crédito para financiamentos, e o aumento da inflação, que afeta a renda.
Queda de vendas de picapes
Francisco Mendes, da consultoria que leva seu nome, chama a atenção para a retração de vendas de picapes em janeiro. “A maior queda foi entre as pequenas e compactas (Strada, Saveiro e Toro). As médias também tiveram redução, por conta de paralisação de produção e a Chevrolet S10 é um exemplo claro desse comportamento”, indica Mendes.
Enquanto a Toyota Hilux fica dentro de uma situação mais estável, a S10 teve um período bastante positivo de julho a outubro e, depois, com a parada da fábrica, desabou para menos de 10% em participação de mercado.
Quem se aproveitou desse movimento, observa o consultor, foi a Volkswagen Amarok, que a partir de outubro veio numa escalada de crescimento e fechou janeiro com a participação de 12,5%, empatada com a Nissan Frontier.
“A Mitsubishi L200 vem razoavelmente constante e a Ranger ganhou um pouco de espaço, mas não o suficiente para recuperar volumes e por uma questão de circunstância ficou na segunda posição”, conclui Mendes.
Fim da era do Salão do Automóvel: vem aí o São Paulo Motor Experience
O Salão do Automóvel, principal evento do setor automotivo nacional que ocorria na capital paulista a cada dois anos, acabou. A afirmação foi feita pelo presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes.
Seu formato já estava desgastado e a pandemia afundou o evento de vez. O último foi em 2018. São vários fatores, mas entre eles, os investimentos das montadoras não justificavam uma simples exposição, sem vendas. Fontes do mercado falam em gastos entre R$ 5 milhões e R$ 20 milhões por marca, conforme o espaço.
Nesta semana, Moraes, anunciou para agosto o São Paulo Motor Experience, em ambiente aberto, com exposição, desfile de carros, shows, test drive e maior interação com o público.
De acordo com o portal Automotive Business, o evento será no Autódromo de Interlagos, antes da reforma para receber a Fórmula 1. Seis marcas já estariam confirmadas – só a BMW anunciou participação até agora. Segundo a Anfavea, há um movimento grande de negociação das montadoras para participar desta nova experiência.
*Lucia Camargo Nunes é economista e jornalista especializada no setor automotivo. E-mail: [email protected]