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OTAN busca alternativa para cabos submarinos

em Tecnologia
sexta-feira, 12 de julho de 2024

Invisíveis, mas vitais, os cabos submarinos suportam mais de 95% do tráfego global da internet. Por eles também são transportados diariamente os dados referentes a cerca de US$ 10 trilhões em transações financeiras, documentos de negócios etc.

Vivaldo José Breternitz (*)

Esses cabos enfrentam riscos trazidos por fenômenos naturais, como tremores, erosão e alteração do nível do mar. Em meio a um cenário geopolítico cada vez mais instável, eles também estão sujeitos a sabotagem.

Dado esse cenário, para proteger os cabos de potenciais ataques ou fenômenos naturais, a OTAN está apoiando um projeto que visa, em situações de emergência, redirecionar o tráfego da internet de cabos submarinos para satélites; esse projeto vem sendo chamado HEIST.

A OTAN financiará o projeto concedendo $ 400 milhões por meio de seu Programa Ciência para a Paz e Segurança. Embora ainda não tenha ocorrido o lançamento oficial, Eyup Kuntay Turmus, executivo do programa, disse à agência Bloomberg que o início formal do projeto acontecerá muito brevemente.

Os temores de ataques à infraestrutura subaquática se intensificaram em setembro de 2022, após as explosões ainda inexplicáveis nos gasodutos Nord Stream 1 e 2, que transportavam gás da Rússia para a Alemanha através do Mar Báltico.

Mais recentemente, um dano a cabos no Mar Vermelho – que teria sido causado pelo afundamento de um navio pelos rebeldes Houthis – afetou temporariamente um quarto de todo de tráfego de dados entre a Europa e a Ásia.

Em 2023, a OTAN expressou preocupação com a possibilidade de a Rússia atacar cabos submarinos como forma de retaliação ao apoio do Ocidente à Ucrânia. Nesse mesmo ano, o primeiro-ministro sueco, Ulf Kristersson, caracterizou o dano a um cabo submarino no mar Báltico entre a Suécia e a Estônia como “intencional”.

Ainda segundo a Bloomberg, o Projeto HEIST está desenvolvendo ferramentas para detectar problemas em cabos, apontando o local desses problemas com precisão de até um metro – a tecnologia hoje disponível tem precisão de um quilômetro.

Tão logo qualquer problema seja detectado, o fluxo de dados será imediatamente redirecionado para satélites – isso deve trazer algum prejuízo em termos de velocidade, mas não haverá interrupção do fluxo. Hoje já existem sistemas que fazem redirecionamento de tráfego entre cabos, mas o HEIST será mais uma ferramenta para manter o tráfego o mais próximo possível do normal.

Pesquisadores de universidades da Islândia, Suécia, Suíça e Estados Unidos estão trabalhando no projeto. A empresa islandesa de segurança cibernética Syndis e as empresas americanas Viasat e Sierra Space, que atuam, respectivamente nas áreas de telecomunicações e aeroespacial, também estão participando do projeto.

Além disso, a OTAN está investindo em outras tecnologias voltadas à defesa: criou um fundo de $ 1 bilhão para esse fim, e já está apoiando várias startups europeias voltadas ao tema.

Lembramos que o Brasil depende muito de cabos submarinos, e sua defesa e manutenção também devem estar entre nossas preocupações.

(*) Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor da FATEC SP, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas.