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O fim da era da abundância

em Tecnologia
quinta-feira, 17 de março de 2022

Há dez anos Peter Diamandis e Steven Kotler lançaram o livro “Abundance: The Future Is Better Than You Think”, lançado em português como “Abundância: o futuro é melhor do que você imagina”, descrevendo um futuro onde toda a população do mundo teria pleno acesso à água potável, alimentos, energia, saúde, educação, e tudo o mais que é necessário para um padrão de vida de primeiro mundo, graças a inovação tecnológica.

Vivaldo J. Breternitz (*) Elisabete P. Breternitz (**)

O livro foi um grande sucesso comercial, mas hoje, como diz o jornalista italiano Riccardo Luna, podemos perceber que a crença num futuro de abundância gera uma cultura de desperdício cotidiano. No mundo ocidental vivemos há anos sem calcular os custos ocultos de nossas ações; por exemplo, o fato de há algum tempo a gasolina e a conta de energia serem baratas, ao menos se comparadas aos preços de hoje, nos fez esquecer o fato de que nada no planeta é de graça e que a produção de energia impacta o meio ambiente.

Esquecemos que estamos sujeitos a riscos políticos, como os ligados à invasão da Ucrânia, por exemplo, o que também nos está ajudando a descobrir que a era da abundância foi adiada.

Por algum tempo faltarão gás, petróleo, trigo e algumas coisas mais; também teremos menos dinheiro devido à inflação.

Precisaremos mudar muitas coisas, começando pela forma de produzir energia, focando-nos realmente nas fontes renováveis, como o sol e o vento. E enquanto essas fontes, por questões de tecnologia e escala de produção não se tornarem baratas, teremos que mudar o nosso comportamento.

Somos obrigados a fazê-lo, prestando mais atenção ao consumo (não só de energia) e guardando dinheiro. Luna diz não ver nada de triste nisso, diz que triste é o desperdício, o descaso, a superficialidade de certas atitudes. Ter mais cuidado, dar mais valor ao que temos, tentar fazer tudo durar mais, não é apenas necessário para enfrentar um momento difícil, mas é também amar o planeta que nos hospeda, cuidar dele.
Luna diz que talvez a guerra tenha sucesso onde a pandemia falhou: nos torne melhores, embora para nós, um tanto pessimistas, a expressão latina “lupus est homo homini lúpus” que pode ser traduzida como “o homem é o lobo do próprio homem”, criada pelo dramaturgo romano Plauto e popularizada por Thomas Hobbes, filósofo inglês do século XVII, continue se sobrepondo a quase tudo.

(*) É Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor, consultor de empresas e diretor do Fórum Brasileiro de IoT. (**) É Especialista em Língua Inglesa pela UNESP, é professora.