O Quociente de Inteligência (QI) é um valor obtido por meio de testes desenvolvidos para avaliar as capacidades cognitivas (inteligência) de uma pessoa.
Vivaldo José Breternitz (*) e Fellipe Fingoli (**)
O teste para medir o QI começou a ser aplicado no início do século XX. Apesar de inúmeras controvérsias acerca de sua validade, ainda é muito utilizado e vem sendo aperfeiçoado – trabalhando com ele, o psicólogo americano James Flynn, nos anos 1980, divulgou o que passou a ser chamado “Efeito Flynn”: a melhoria constante dos índices de acerto da população mundial nos testes de QI, ou, de forma simples, os filhos quase sempre são mais inteligentes que os pais. Explicações possíveis para o Efeito Flynn, incluem a melhoria na nutrição, menos doenças infecciosas, mais educação e ambientes mais estimulantes.
Agora, o neurocientista francês Michel Desmurget, diretor do Institut National de la Santé et de la Recherche Médicale, afirma que, pela primeira vez, os filhos estão frequentemente apresentando um QI inferior ao dos pais, em oposição ao efeito Flynn, e que isso se deve muito à superexposição de crianças e jovens ao ambiente digital.
Desmurget, que acumula vasta publicação científica e já passou por centros de pesquisa renomados como o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e a Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos é autor do livro “Fábrica de Cretinos Digitais”, onde discute a queda no QI em países como Noruega, Dinamarca, Finlândia, Holanda e França
Questionado sobre quais fatores estão causando essa diminuição no QI, o cientista alega que ainda não é possível determinar o papel específico de cada fator, como os problemas ambientais, exposição a telas e outros. Mas o que afirma é que, mesmo que o tempo de tela de uma criança não seja o único culpado, ele tem um efeito significativo na queda de seu QI.
De acordo com o especialista, a superexposição às telas faz com que os principais alicerces da nossa inteligência sejam afetados: linguagem, concentração, memória e cultura e que esses impactos levam a uma queda significativa no desempenho acadêmico.
O especialista também menciona diminuição da qualidade e quantidade das interações intrafamiliares, essenciais para o desenvolvimento da linguagem e do emocional; diminuição do tempo dedicado a outras atividades mais enriquecedoras (lição de casa, música, arte, leitura etc.); perturbação do sono, que é quantitativamente reduzido e qualitativamente degradado; superestimulação da atenção, levando a distúrbios de concentração, aprendizagem e impulsividade; subestimulação intelectual, que impede o cérebro de desenvolver todo o seu potencial e o sedentarismo excessivo que, além do desenvolvimento corporal, influencia a maturação cerebral.
Tudo isso deve chamar nossa atenção para a forma com que nossas crianças estudam e se divertem – podemos ser responsáveis por algo no mínimo vergonhoso: estamos permitindo que nossas crianças emburreçam…
(*) É Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie. (**) É graduado em Sistemas de Informação pela Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie, é engenheiro de software.