Há quase cem anos rádios vêm sendo instalados em automóveis e notícias, informações sobre trânsito, clima, esportes, além de música passaram a fazer parte do cotidiano dos motoristas, quase sempre na modalidade AM.
Vivaldo José Breternitz (*)
Mas os autorrádios AM podem estar com seus dias contados, à medida em que os veículos elétricos conquistam mais mercado – um número crescente de modelos elétricos já abandonou o rádio AM, o que as emissoras consideram uma mudança preocupante, que pode significar problemas para as estações e privar os motoristas de uma fonte importante de notícias, especialmente em situações de emergência.
As montadoras dizem que os veículos elétricos geram mais interferências eletromagnéticas do que os carros movidos a gasolina, o que pode atrapalhar a recepção de sinais AM e gerar estática, ruídos e zumbidos. Os sinais de FM são mais resistentes a tais interferências.
BMW, Tesla, Audi, Porsche e Volvo já removeram o rádio AM de seus veículos elétricos, assim como a Volkswagen de seu SUV elétrico ID.4; a Ford também disse que a F-150 Lightning, sua popular picape elétrica, também não terá rádio AM.
Alguns especialistas dizem que os problemas de recepção não são intransponíveis. As interferências eletromagnéticas podem ser controladas com o uso de cabos blindados, filtros e colocação cuidadosa dos componentes elétricos no veículo.
Mas essas mudanças exigem dinheiro e esforço, e parece que as montadoras não estão dispostas a gastar mais para atender os fãs de rádio AM, especialmente por observarem que este perdeu popularidade na Europa e que essa tendência pode ser válida para todo o mundo.
Também nos Estados Unidos a situação já não é muito confortável para as emissoras AM: cerca de 47 milhões de americanos ouvem AM, representando apenas cerca de 20% do público que ouve rádio, de acordo com a Nielsen, empresa de rastreamento de mídia. Além disso, os ouvintes de AM tendem a ser mais velhos, cerca de um terço tem mais de 65 anos. Aqui no Brasil, os números não devem ser muito diferentes – é possível acreditar que 31 milhões de brasileiros ouçam AM, segundo levantamentos da Kantar IBOPE Media realizados em 2021.
Dessa forma, as maiores ameaças ao rádio AM parecem vir do envelhecimento da população, e não dos veículos elétricos, pois algumas montadoras, como a Hyundai, já anunciaram que não tem planos de eliminar AM de seus veículos.
(*) É Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas.
