Uma nova expressão, “mobesity”, foi criada pelo professor Christian Brand, da Universidade de Oxford, um estudioso da utilização de veículos elétricos.
Vivaldo José Breternitz (*)
A expressão, que pode ser traduzida para o português como “mobesidade”, deriva dos termos “mobilidade” e “obesidade”, e refere-se ao aumento generalizado do tamanho dos veículos utilizados para o transporte de pessoas.
Apesar de, a nível global, 14% dos novos carros vendidos serem elétricos, a mobesidade está minando os benefícios ambientais e econômicos trazidos pela substituição dos veículos dotados de motores convencionais pelos elétricos, que é fundamental para mitigar as mudanças climáticas.
Embora a eletrificação prometa reduzir as emissões de gases de efeito estufa, a construção de veículos elétricos maiores, especialmente SUVs, não apenas exige mais recursos para sua fabricação — aumentando assim a pegada ambiental — mas também mina os ganhos trazidos pela eletrificação, devido ao seu maior consumo de energia.
Do ponto de vista do mercado, cabe observar que a mudança para veículos maiores beneficia os fabricantes, pois esses modelos são vendidos a um preço premium e tem custos de fabricação não muito mais elevados que os dos veículos menores, o que tem levado os fabricantes a lançar menos novos modelos pequenos e a adotar práticas de marketing que estão mudando as preferências dos consumidores.
Em 2022 os SUVs constituíram cerca de 35% de todas as vendas de carros de passageiros elétricos em todo o mundo, levando ao aumento da demanda por baterias maiores e motores mais potentes, que por sua vez exigem mais lítio, cobalto e outras matérias-primas críticas.
A extração e o processamento desses materiais são intensivos em energia e ambientalmente invasivos, exacerbando problemas que a eletrificação visa resolver. Além disso, o aumento do peso dos veículos contribui para maior desgaste dos pneus e das estradas, levando a mais emissões de partículas, que são prejudiciais tanto para a saúde humana quanto para o meio ambiente.
Segundo o Professor Brand, fica claro que a mobesidade é um problema sério, que precisa ser enfrentado com abordagens diferenciadas que combinem intervenção política, inovação tecnológica e mudanças no comportamento do consumidor.
Os formuladores de políticas devem implementar regulamentações que desencorajem a produção e compra de veículos maiores, especialmente através da elevação de tributos, promovendo também os veículos mais eficientes e de baixa emissão. Governos da Suécia e da França, bem como do estado de Iowa e da cidade de Nova York, tem tomado medidas desse tipo.
Governos locais podem desempenhar um papel fundamental, redesenhando espaços urbanos para desencorajar o uso de veículos grandes, por exemplo dificultando seu estacionamento em vias públicas e acesso ao centro das cidades.
Campanhas de conscientização podem educar os consumidores sobre os impactos ambientais e econômicos dos grandes veículos elétricos e promover os benefícios dos modelos menores.
Ao enfrentar os desafios trazidos pela mobesidade, podemos direcionar o setor de transporte global para um futuro mais sustentável, garantindo que a mudança para veículos elétricos realmente traga benefícios ambientais e econômicos.
(*) Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor da FATEC SP, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas – [email protected].