Vivaldo José Breternitz (*)
Cerca de 80% dos bitcoins minerados atualmente vem da China. Essa atividade está colocando em risco as metas de combate à mudança climática fixadas pelo governo daquele país, segundo um estudo publicado pela revista Nature. A China planeja se tornar neutra em carbono até 2060, sendo para isso necessária uma grande redução no uso de combustíveis fósseis.
Esse risco ocorre em função do alto consumo de energia exigido pela mineração de bitcoins, sendo que na China, 40% do consumo de eletricidade usada para esse fim, provém da queima de carvão, combustível altamente poluente. O estudo da Nature concluiu que, se as coisas continuarem nesse ritmo, apenas a mineração de bitcoins na China gerará 130,5 milhões de toneladas métricas de emissões de carbono até 2024, quase tanto quanto a totalidade das emissões de países como Itália e Arábia Saudita.
A nível mundial, 0,6% da energia gerada deverá ser consumida pela mineração, mais que o consumo da Noruega, país com apenas 5 milhões de habitantes, mas com alto consumo de energia em função do clima muito frio. As empresas chinesas, com acesso a eletricidade e hardware baratos, processaram cerca de 79% das operações globais com bitcoins em abril de 2020, disse o estudo; isso envolve, além da mineração, o processamento das transações com essa criptomoeda.
O governo chinês tentou, sem sucesso, desestimular a mineração de bitcoins por meio do aumento de impostos para os mineradores, porém os altos lucros trazidos pela atividade tornaram essa medida inócua. Curiosamente, a China proibiu o comércio de criptomoedas em 2019 para evitar a lavagem de dinheiro, mas a mineração continua permitida. Alguns governos locais, como o da Mongólia Interior, estão tomando medidas para proibir a mineração, depois que a região não conseguiu cumprir as metas anuais de redução do consumo de energia.
Ali, concentram-se 8% da capacidade de computação utilizada para minerar e processar as transações de bitcoins em todo o mundo; nesse aspecto, ela supera os Estados Unidos. Agressão ao meio ambiente é mais um argumento em favor daqueles que lutam pela proibição das criptomoedas.
(*) – Doutor em Ciências pela USP, é professor da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie.