Os chineses lançaram há alguns dias mais um módulo a ser agregado à sua estação espacial Tiangong, que já está em órbita há algum tempo.
Vivaldo José Breternitz (*)
O módulo Mengtian, de 23 toneladas, aumentará a área disponível na estação para a realização de experimentos científicos e é a última grande expansão da Tiangong.
Mas o evento pode gerar problemas: para colocar o módulo em órbita, a China usou seu poderoso foguete Longa Marcha 5B e um grande pedaço desse foguete deve reentrar na atmosfera da Terra sem qualquer controle.
Normalmente, durante um lançamento, o primeiro e principal estágio de um foguete fornece a maior parte do empuxo durante os primeiros minutos após o lançamento e depois cai no mar – é possível calcular o local da queda com razoável precisão. A seguir, um segundo estágio, menor, leva a carga útil, no caso o Mengtian, até a órbita, onde se acoplará à estação.
Na volta à Terra, dependendo de seu tamanho, esse segundo estágio pode ser guiado de forma a cair na área do Oceano Pacífico chamada Point Nemo, muito longe de qualquer porção de terra. Quando se trata de engenhos pequenos, o atrito faz com que eles queimam quando reentram na atmosfera.
No entanto, o Long March 5B usado para este lançamento, não possui o segundo estágio e o primeiro, que pesa cerca de 20 toneladas é grande demais para queimar totalmente ao reentrar na atmosfera e não tem recursos que permitam que seja guiado para o Ponto Nemo.
Nos três lançamentos anteriores do Long March 5B, em 2020, 2021 e 2022, detritos danificaram aldeias na Costa do Marfim, caíram no Oceano Índico e perto de aldeias em Bornéu, respectivamente; felizmente os danos não foram grandes e não houve vítimas.
A China se recusou a reconhecer o problema, tendo a TV estatal dito que os restos do foguete queimarão completamente quando reentrarem na atmosfera, mas é quase certo que isso não acontecerá.
Acredita-se que os restos do foguete devem estar de volta à Terra ao redor de 10 de novembro – o que se pode fazer até lá é torcer para que nada de ruim aconteça, pois não é possível prever onde cairão os detritos.
(*) É Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas.