Guerras geram ou aceleram o desenvolvimento de novas tecnologias, como por exemplo, os aviões a jato, o radar e a penicilina.
Vivaldo José Breternitz (*)
A invasão da Ucrânia confirma essa afirmação: Igor Klymenko, um jovem estudante ucraniano de 17 anos, criou um sistema detector de minas terrestres que pode ajudar a diminuir o número de vítimas desses dispositivos – acredita-se que mais de sete mil pessoas morram a cada ano, em todo o mundo, quando inadvertidamente detonam minas, que além das mortes e ferimentos graves inviabilizam o uso das áreas onde são colocadas, tornando-as inacessíveis à população.
A família do jovem residia em Kiev, a capital da Ucrânia, mas em função dos ataques russos precisou refugiar-se em um porão fora da cidade. Ali o jovem, que já havia ganho vários prêmios, inclusive internacionais, pela sua aplicação aos estudos e à pesquisa, idealizou seu sistema, que se baseia em um drone, tecnologia pela qual ele sempre se interessou.
O drone é um quadricóptero 4DRC F5 Pro – uma máquina muito barata, disponível comercialmente e frequentemente usada para fotografia e filmagens. Klymenko construiu um detector de metais transportado pelo drone, que ao localizar uma provável mina envia sinais a um receptor conectado a uma placa Arduino.
Partindo do processamento desse sinal, das coordenadas do ponto de decolagem do drone, de sua velocidade, tempo de voo etc., um aplicativo desenvolvido na linguagem C++ determina a posição das minas com uma precisão de dois centímetros. Essa informação permitirá que pessoas evitem a área e que, após a guerra, profissionais desativem as minas – militares brasileiros há muito tempo fazem esse trabalho em diversas partes do mundo.
Klymenko, que além do software utilizado, já construiu dois protótipos de seu sistema detector, disse acreditar que até o final do ano o mesmo estará sendo produzido em escala.
Também pretende adicionar mais funcionalidades à sua invenção, como um aplicador de tinta spray que permitiria ao drone marcar a localização das minas no solo diminuindo o perigo de uma detonação acidental, um radar para melhorar a precisão do detector, uma inteligência artificial para determinar o tipo exato da mina e um sistema de detonação das minas para evitar acidentes com os envolvidos no processo de desativação, que é arriscado.
Resta esperar que o conflito termine logo, para que este e outros talentos possam seguir estudando e dedicando seus esforços à aplicação para fins pacíficos das tecnologias que desenvolveram para a guerra.
(*) É Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas.