O greenwashing, ou “maquiagem verde”, é uma prática adotada por empresas que desejam promover uma imagem ambientalmente responsável, sem de fato implementar ações sustentáveis significativas. Essencialmente, trata-se de um marketing enganoso que leva os consumidores a acreditarem que a marca está mais comprometida com a questão ambiental do que realmente está.
Esse fenômeno pode ser identificado ao prestar atenção em discursos exagerados, falta de clareza e promoção de pequenas iniciativas como se fossem grandes mudanças. Ele vem ocorrendo no mundo todo, envolvendo inclusive algumas das maiores corporações globais. A Apple, por exemplo, foi criticada por destacar seletivamente suas conquistas ambientais, enquanto ignorava temas como a obsolescência programada e a pegada de carbono na fabricação de seus produtos na China. A Coca-Cola também foi acusada de enganar seu público sobre a capacidade de reciclagem de suas garrafas PlantBottle e continua sendo uma das maiores poluidoras de plástico do mundo.
A Unilever enfrenta críticas sobre a transparência em suas cadeias de suprimento de óleo de palma e suas alegações de sustentabilidade. A Toyota foi acusada de confundir veículos híbridos com veículos elétricos em suas campanhas, bem como de atrasar a adoção desta tecnologia. Por sua vez, a Starbucks lançou tampas sem canudo que, na verdade, contêm mais plástico do que as combinações anteriores, transferindo a responsabilidade do lixo plástico para países em desenvolvimento. A Walmart foi multada ao vender produtos como sendo feitos de bambu, quando na verdade eram de raiom, um material semissintético com impactos ambientais negativos.
Os casos são inúmeros. O problema do greenwashing é que ele desvia a atenção de ações efetivas e necessárias para mitigar as mudanças climáticas, o que impede progressos verdadeiros na luta contra o aquecimento global, além de iludir a população.
E essa atitude também invadiu o mercado de créditos de carbono. Muitas companhias os adquirem para cumprir regulamentos ambientais e se declarar “amigas do meio ambiente”, com o objetivo de atrair clientes que valorizam esses aspectos, o que é uma alternativa mais barata e fácil do que investir em tecnologias ou políticas ecológicas, tornando-se uma solução conveniente, porém superficial.
Recentemente, o Greenpeace processou a operadora australiana de energia Woodside por ter alegado que reduziu suas emissões em 11% utilizando créditos de carbono, enquanto suas emissões reais aumentaram em 3%. A Delta Air Lines também foi alvo de uma ação coletiva nos EUA, por declarar ser a “primeira companhia aérea neutra em carbono do mundo”, por supostamente compensar as emissões de seus voos, mas essa afirmação foi considerada falsa, levando a críticas sobre a validade dos créditos usados.
Análises atuais mostraram que essas práticas, comuns em setores como petróleo, gás e tecnologia, envolvem grandes corporações que compram enormes quantidades de créditos de carbono de qualidade duvidosa, que não proporcionam as reduções almejadas, visto que não atendem aos critérios de permanência e adicionalidade necessários para serem considerados eficazes.
Percebe-se que há desafios relevantes na criação e manutenção de projetos destes ativos digitais, o que requer um conjunto de esforços jurídicos e tecnológicos. Por exemplo, é necessário garantir a matrícula da área para acompanhar o desenvolvimento do projeto ao longo do tempo, assegurando a contabilidade do ativo. Um ambiente regulado onde os registros possam ser garantidos e documentados é essencial. Isso inclui lidar com sobreposições de áreas, licenças e diferentes biomas. Nesse contexto, a tokenização pode oferecer uma solução viável, criando um ambiente seguro e confiável para documentação e transações.
No final das contas, o verdadeiro valor dos tokens RWA não está apenas no produto em si, mas na área a ser desenvolvida e na segurança de sua produção. Projetos bem desenvolvidos e transparentes são indispensáveis para garantir que os créditos de carbono de fato contribuam para a sustentabilidade ambiental, evitando o greenwashing e assegurando que as ações ambientais tenham impacto real e duradouro no combate às mudanças climáticas.
(Fonte: Cassio J Krupinsk é CEO da BlockBR, fintech especializada em tokenização e investimentos em ativos digitais – [email protected]).