Parece que, de repente, só se fala em ESG. Em dezembro de 2020, li sobre o tema pela primeira vez, quero dizer, primeira vez com esse nome, porque a relação entre meio ambiente, responsabilidade social e governança não é nenhuma novidade.
Carolina Cunha (*)
Muitas empresas já possuem, há muitos anos, ações e indicadores para mensurar o seu impacto. Existem metodologias, certificações e boas práticas sendo aplicadas no mercado.
Mas, aos poucos, a demanda por entender melhor o universo de ESG foi saindo da mesa do acionista e entrando nas diversas esferas das empresas, seja do financeiro, comercial, marketing, TI, compliance e por aí vai. O objetivo desse artigo, então, é compilar um pouco desses conceitos e entender porque essas letrinhas não irão embora do vocabulário empresarial tão cedo.
Mindset de stakeholders
Foi-se o tempo em que uma empresa construía o seu patrimônio à custa do sangue, suor e lágrimas dos colaboradores, parceiros e clientes. Em décadas passadas, era comum ver uma empresa estrangular seus fornecedores em negociações abusivas, que só favoreciam o lado mais forte, ou ganhar dinheiro em cima dos consumidores, que tinham pouca base de comparação entre produtos e serviços para fazer sua decisão de compra. Era comum, ainda, ver funcionários exaustos, que odiavam os seus empregos, e precisavam ser vigiados de perto por um carrasco, ops, um supervisor, para entregarem o seu trabalho.
E tudo o que estava da porta para fora de uma empresa, não era problema dela. Se um fornecedor apresentasse alguma prática duvidosa, isso é problema dele. Certo?
Errado. Isso tudo, na maioria das empresas, é passado. Vivemos hoje uma realidade empresarial que o Fórum Econômico Mundial realizado em Davos, em janeiro de 2020, chamou de Capitalismo de Stakeholders. Ninguém está sozinho no mundo e se não trabalharmos todos juntos em prol de algo maior, não sobrará nada para as próximas gerações. Muitas empresas, atualmente, possuem receita maior do que o PIB de muitos países. E como dizia o Tio Ben, “Com grandes poderes vem também grandes responsabilidades”.
O capitalismo de stakeholders prega que a relação com a empresa deve atender aos interesses dos acionistas sim, como no passado, mas também visa beneficiar os executivos, clientes, fornecedores, funcionários e a comunidade em que a empresa está inserida. A relação deve ser ganha-ganha, respeitosa, e com impactos positivos no mundo.
E o que se ganha com o ESG?
Em primeiro lugar, mais clientes. Cada vez mais, percebemos que as gerações novas (millennials e geração Z) são ‘drivados’ pelos seus propósitos mais do que pela busca por crescimento profissional. Eles querem trabalhar em companhias que fazem a coisa certa e querem comprar produtos e serviços que entendem o seu impacto social e ambiental no mundo. Nem pense em testar seus produtos em animais ou discriminar racialmente seus funcionários e achar que vai ficar tudo bem. E esses jovens que hoje estão nas faculdades, sonhando em trabalhar de bermuda, representarão 75% da força de trabalho global em 2025.
Essa força de trabalho está, cada vez mais, ganhando poder de compra, chegando aos cargos de tomadores de decisão nas empresas ou até abrindo seus próprios negócios. Se eles ainda não são os seus clientes, prepare-se, porque em breve eles serão.
E fique atento, pois eles estão de olho nas suas redes sociais. Nem sonhe em praticar greenwashing, ou seja, ter práticas que se dizem sustentáveis somente para fazer marketing em cima disso, mas que, na verdade, não se sustentam (trocadilho intencional) porque são rasas e superficiais. Seja verdadeiro sobre as causas que você defende e não levante bandeira por algo que não pratica, pois seus clientes estão prontos para expor seu blefe publicamente e abalar seriamente a sua reputação, o que irá te custar novos clientes.
Outro ponto importante para se ter em vista é que empresas que possuem indicadores de ESG estão mais alinhadas ao caminho que o mundo está seguindo e, portanto, correm menos riscos em longo prazo. Diversos países se comprometeram com a Agenda 2030 da ONU – que apoiará pessoas a prosperarem em um planeta saudável e em paz, por meio de parcerias – e já programam a proibição de combustíveis de queima fóssil, regulam a emissão de carbono e buscam energia limpa. As empresas que voluntariamente topam iniciar sua jornada em ESG e, desde já, adotam os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) e comprovam suas evoluções por meio de indicadores mensuráveis, estão mais propensas ao sucesso em longo prazo.
Por fim, podemos dizer que o chamado, Investimento de Impacto veio para ficar. Esse termo, cada vez mais comum nas conversas do mercado financeiro, diz respeito aos investimentos realizados em empresas que conseguem gerar um impacto social ou ambiental positivo e transformador, trazendo retorno financeiro no processo. É o pensamento coletivo reforçado no capitalismo de stakeholders, citado acima.
Essa nova onda de colocar as iniciativas ESG em pauta começou após um relatório chamado ‘Who cares wins: connecting financial markets to a changing world’. Originado do Pacto Global da ONU, o relatório sugere diretrizes para o desenvolvimento sustentável e reforça o papel do setor financeiro nesse contexto. Porém, por mais que a origem esteja enraizada em um contexto financeiro, entender sobre ESG é dever de casa para todas as áreas da empresa, por diversos motivos.
A inovação é um deles. Um dos grandes princípios da atuação ESG é o fomento da diversidade dentro da empresa. Não somente do corpo operacional, mas inclusive entre os executivos e nos conselhos de administração. Pessoas diferentes trazem olhares diferentes para os mesmos problemas, e por consequência, apresentam diferentes soluções. Esse é o fundamento principal da inovação, ter novos olhares.
Por esse motivo, a empresa que tem metas de diversidade em todos os níveis e busca avaliações constantes por meio de comitês internos e outras iniciativas acabam sendo também as mais inovadoras. E isso se reflete nos resultados. Segundo pesquisa realizada pela McKinsey, empresas com maior pluralidade nas equipes e que priorizam a diversidade alcançam resultados até 21% maiores do que aquelas que não tem esse foco.
O mais importante de tudo é entender que ESG não é uma moda passageira. Não adianta a empresa ter iniciativas desconectadas apenas para ganhar espaço na mídia e surfar na onda da visibilidade. E não adianta também ter uma área dedicada ao tema trabalhando sozinha na missão de levar a cultura de sustentabilidade para a empresa.
É fundamental que a alta liderança da companhia esteja engajada de forma consistente, entendendo que as mudanças são necessárias para fazer a empresa crescer. Na verdade, sempre foi assim. Pois ESG não é uma novidade, apesar do buzz atual. ESG é a sustentabilidade atrelada aos resultados do negócio, uma evolução que as futuras gerações agradecem. E nós também.
(*) É gerente de Comunicação e Marketing da Microcity.