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Em tecnologia, às vezes a criatura se volta contra o criador…

em Tecnologia
sexta-feira, 23 de junho de 2023

Confirmada a perda do submersível Titan, possivelmente em função de problemas ligados à tecnologia empregada em sua construção, vale a pena lembrar outra tragédia: não se trata exatamente de criatura e criador, mas o que aconteceu com o submarino americano Tang durante a Segunda Guerra Mundial também nos faz lembrar essa expressão.

Vivaldo José Breternitz (*)

Apesar de participar de apenas cinco patrulhas, o Tang foi um dos submarinos mais “produtivos” da Segunda Guerra Mundial, afundando 33 navios japoneses. Seu capitão, Comandante Richard O’Kane, foi condecorado com a Medalha de Honra do Congresso.

Em 24 de outubro de 1944, o Tang encontrou um comboio de navios japoneses no Estreito de Formosa (entre a China e Taiwan) e na superfície, em rápida sucessão, torpedeou dois navios.

Para fugir ao caos que se instalara, o Tang submergiu, e a tripulação, avaliando a situação, concluiu que poderia emergir e atirar seus dois últimos torpedos contra outros navios do comboio – terminados os torpedos, o submarino deveria voltar para San Francisco, para um período de manutenção e reabastecimento. 

O Tang emergiu, disparou um dos torpedos, que acertou o alvo. A seguir, disparou o último e a desgraça aconteceu: o torpedo deixou seu tubo de lançamento, percorreu uma pequena distância e, por uma falha de construção, voltou-se contra o submarino, atingindo-o na popa, explodindo e fazendo o Tang afundar.  

Dos 87 tripulantes apenas nove sobreviveram à explosão e ao naufrágio. Quatro deles, inclusive O’Kane, foram lançados para fora do barco e passaram horas flutuando em mar aberto. Outros cinco permaneceram presos dentro da sala de torpedos de proa do Tang sob 50 metros de água até a manhã seguinte, quando conseguiram sair e chegar à superfície. Mais quatro homens escaparam do submarino, mas sucumbiriam antes que pudessem ser resgatados. 

Os sobreviventes foram recolhidos por uma lancha de patrulha japonesa e perceberam que seu calvário apenas começara. Eles passaram por torturas, abusos e privações em campos de prisioneiros até agosto de 1945, quando foram libertados pelas forças americanas que invadiram o Japão; logo após retornariam aos Estados Unidos.

(*) Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas.