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Comprar um “dumbphone” para seu filho pode ser uma boa ideia

em Tecnologia
quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Vivaldo José Breternitz (*)

Os celulares que quase todos usamos são chamados smartphones, expressão que pode ser traduzida como “telefones inteligentes”, por sua capacidade de acessar a internet e processar dados de forma muito semelhante à de um laptop.

Em 2007 a Apple lançou o primeiro iPhone, que é considerado um marco fundamental na história desses dispositivos, que começaram a chegar ao Brasil por volta de 2010.

Os celulares que utilizávamos anteriormente vem sendo chamados dumbphones, algo como “telefones burros”. Suas vendas vêm crescendo bastante, especialmente nos países de renda mais baixa, pois custam a partir de cerca de R$ 120, contra os cerca de R$ 700 dos smartphones mais baratos.

Mas há outro fator impulsionando as vendas dos dumbphones: pais preocupados com os perigos que seus filhos enfrentam navegando pela internet com smartphones, estão optando por dar às suas crianças celulares que podem apenas fazer e receber ligações e mensagens de texto, além de jogos muito simples.

Um dos lugares em que essas vendas vêm crescendo é o Reino Unido, onde as vendas de celulares não conectados à internet dobraram em um ano, com um grande aumento em setembro, o mês em que começa ali o novo ano letivo – os pais parecem estar dando esses aparelhos aos seus filhos.

A Nokia, a marca cujos telefones dominavam o mercado no início dos anos 2000, tem se mostrando popular entre aqueles que desejam evitar o mundo da internet – um de seus modelos mais vendidos é a versão mais recente do Nokia 3310, originalmente lançado em 2000 e que era tido como quase indestrutível.

Além de pessoas de renda mais baixa e pais preocupados, consumidores mais idosos, que tem dificuldades com telefones mais sofisticados, também estão optando por celulares básicos mais simples e fáceis de operar.

Dumbphones também são comuns em locais onde os dispositivos são propensos a sofrerem danos, como construções, fábricas e oficinas – smartphones são frágeis e os danos que podem sofrer em ambientes como esses fazem com que as empresas optem por dispositivos mais baratos quando estes podem atender às suas necessidades.

Há outras notícias sobre o retorno dos dumbphones. Um relatório da empresa de pesquisas de mercado Counterpoint Research informou que as vendas desses aparelhos vêm crescendo também nos Estados Unidos, não só para pais que dessem proteger seus filhos, mas também para jovens que compõem a Geração Z, os nascidos entre 1997 e 2012 que estão tentando reduzir o tempo de tela para proteger sua saúde mental e manterem-se concentrados em suas atividades profissionais e escolares.
É curioso registrar que o Eton College, um internato de elite situado na Inglaterra, fundado em 1440, um dos mais prestigiados daquele país e famoso por seus alunos notáveis, incluindo membros da família real britânica, políticos e líderes empresariais, proíbe smartphones para alunos do primeiro ano, oferecendo-lhes celulares básicos Nokia como alternativa.

A escola acredita que o esquema ajuda a criar um ambiente que apoia a aprendizagem ao minimizar as distrações – seus alunos normalmente tem entre 13 e 18 anos.

Esperamos que medidas similares sejam efetivamente aplicadas aqui no Brasil, sendo estas fundamentais para a melhoria do aprendizado e segurança de nossas crianças.

(*) Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas – [email protected].