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China versus Estados Unidos: começa mais uma guerra

em Tecnologia
terça-feira, 19 de dezembro de 2023

Como relata o portal TechCrunch, os semicondutores tem sido nos últimos anos um ponto focal nos esforços dos Estados Unidos para impedir o avanço tecnológico da China.

Vivaldo José Breternitz (*)

Agora, Washington está de olho em outro setor de tecnologia que está em alta e no qual a China está fazendo grandes avanços: baterias para veículos elétricos.

No início de dezembro, os Departamentos (Ministérios) do Tesouro e de Energia propuseram regras que limitariam os compradores de veículos elétricos a reivindicar créditos fiscais se as baterias dos carros que estiverem adquirindo contiverem materiais provindos da China e de outros países considerados “hostis” aos Estados Unidos.

Esses créditos foram criados por lei que entrou em vigor em 2022; por ela, os consumidores têm direito a até US$ 7.500 em subsídios para compras de veículos elétricos fabricados nos Estados Unidos, usando materiais predominantemente americanos.

O Ministério do Comércio da China afirmou que essas novas regras aumentarão as discriminações contra empresas chinesas e violam as regras da Organização Mundial do Comércio.

As regras propostas, que visam reduzir a dependência americana das cadeias de abastecimento da China, provavelmente prejudicarão os esforços do presidente Biden para impulsionar as vendas de veículos elétricos como parte dos planos para reduzir pela metade as emissões de gases de efeito estufa até 2030.

Também está em jogo o objetivo americano de conter os avanços da China em um setor em rápido crescimento: a CATL e a BYD, duas das maiores fabricantes de baterias da China, responderam por cerca de 53% da produção mundial de baterias para veículos elétricos nos primeiros 10 meses de 2023. Até o terceiro trimestre deste ano, a China é o maior mercado de veículos elétricos do mundo, com uma participação de 58%, seguida pelos Estados Unidos e Alemanha.

Empresas sul-coreanas, como LG, Samsung e SK On oferecem alternativas competitivas às baterias chinesas baratas e avançadas e são as mais propensas a se beneficiar das relações deterioradas entre China e Estados Unidos.

No entanto, mesmo as empresas sul-coreanas estão sofrendo com as novas complicações geopolíticas: apesar de a SK On ter sido escolhida pela Ford e pela Hyundai para estabelecer fábricas de baterias nos Estados Unidos, o presidente do grupo SK, Chey Tae-won, culpou recentemente o governo americano pelos custos das baterias serem altos, por ser sua empresa obrigada a buscar materiais não chineses para seus produtos, a preços mais altos.

Para superar esses problemas, as fabricantes chinesas de baterias têm planejado criar fábricas nos Estados Unidos, o que aparentemente qualificaria seus compradores para o benefício fiscal.

Dentre esses fabricantes estão Gotion, BYD e CATL, que seguem enfrentando obstáculos: a Ford, por exemplo, interrompeu temporariamente seus planos de construir uma fábrica de baterias com investimentos de US$ 3,5 bilhões em parceria com a CATL, enquanto os políticos discutem o assunto.

A guerra China versus Estados Unidos vem ganhando tração, ao menos nos campos da economia e da tecnologia.

(*) Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor da FATEC SP, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas.