Os cabos submarinos são a espinha dorsal da internet, transmitindo dados praticamente à velocidade da luz.
Vivaldo José Breternitz (*)
Vários desses cabos foram cortados no Mar Vermelho no início deste mês, prejudicando temporariamente um quarto de todo o tráfego de dados entre a Ásia e a Europa. Alguns culparam os rebeldes Houthi por sabotar os cabos; o grupo, que tem atacado navios de carga no Mar Vermelho, negou qualquer responsabilidade.
O que parece ter acontecido é que o cargueiro britânico Rubymar, que foi atingido por um míssil disparado por esses rebeldes, precisou ser abandonado pela sua tripulação, que lançou a âncora para evitar que o navio ficasse à deriva, transformando-se numa ameaça à navegação.
No entanto, a âncora não se fixou e o cargueiro, à deriva, arrastou a âncora pelo leito do mar, rompendo três cabos, antes que finalmente afundasse, depois de algumas semanas.
Dezesseis cabos, representando 17% de todo o tráfego internacional de dados da internet, percorrem o leito do Mar Vermelho – assim como a região funciona como uma artéria para o comércio mundial, do ponto de vista das telecomunicações o Mar Vermelho é um ponto nevrálgico para a conexão Europa – Ásia.
Embora o corte desses cabos possa sugerir um cenário apocalíptico de colapso da internet, a realidade não é tão dramática. A maioria dessas redes é construida levando em consideração a probabilidade de falhas como essa, de forma que, se um cabo for cortado, o fluxo de dados é automaticamente redirecionado para outro, mantendo a conexão, embora sejam possíveis algumas instabilidades e quedas de performance.
Mas há alguns casos mais graves: em junho de 2022, o Asia-Africa-Europe 1, um cabo com 25 mil quilômetros que vai de Hong Kong à França, sofreu uma falha, deixando milhões de pessoas sem internet; embora a conexão tivesse sido restaurada em um dia, especialistas alertaram sobre a vulnerabilidade da infraestrutura submarina a ataques terroristas.
Há algumas semanas, o governo do Iêmen, inimigo dos Houthis, alertou que esses rebeldes, apoiados pelo Irã poderiam sabotar os cabos submarinos. Isso pode não ter acontecido agora, mas a carga do navio afundado – petróleo e fertilizantes – pode trazer prejuízos a cerca de 500 mil pessoas que vivem da pesca na região.
(*) Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor da FATEC SP, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas – [email protected].