Apesar da aura de modernidade com que procuram se revestir, algumas empresas tratam seus funcionários de forma que lembra os primórdios da Revolução Industrial, quando os que trabalhavam em fábricas e escritórios eram pouco mais do que escravos.
Vivaldo José Breternitz (*)
O assunto volta à pauta depois que um armazém da Amazon em Illinois desabou ao ser atingido por um tornado na semana passada, matando pelo menos seis pessoas. Agora, a gigante do varejo está sendo criticada por não permitir que seus empregados carreguem seus telefones celulares no interior dos armazéns, impedindo-os de receber avisos meteorológicos e, eventualmente, pedirem socorro em casos de catástrofe.
A Amazon está restabelecendo sua antiga política de proibição de celulares em seus depósitos, após flexibilizar a proibição durante a pandemia. Agora, os empregados são obrigados a deixar os telefones em seus armários e a passar por detectores de metal que checam se a proibição foi acatada.
A obsessão da empresa com a produtividade, causa da proibição, tem um custo enorme para sua força de trabalho: seus trabalhadores sofrem acidentes com mais frequência e gravidade do que os de empresas similares, sendo a taxa de acidentes graves quase 80% mais alta.
O desabamento em Illinois não é o primeiro a causar vítimas entre pessoas que trabalham para a Amazon; em 2018, em evento similar, dois trabalhadores morreram em um armazém da empresa em Baltimore.
Mais uma vez adotando uma postura condenável, a empresa referiu-se ao evento de forma protocolar, lamentando o ocorrido e não fazendo qualquer referência à proibição de telefones em seus armazéns.
(*) Vivaldo José Breternitz, Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é consultor de empresas.