
Pequenos balões meteorológicos e inteligência artificial estão sendo utilizados de forma a permitir que agricultores da África obtenham previsões meteorológicas mais precisas.
Vivaldo José Breternitz (*)
O primeiro sistema desse tipo foi implantado no Quênia, com previsão de aplicação também em Angola, Cabo Verde, África do Sul e Zimbábue, ainda neste ano.
Os balões pesam cerca de um quilo e foram desenvolvidos pela WindBorne Systems, uma startup americana. O sistema foi viabilizado através de uma doação de 5 milhões de dólares feita pela Fundação Gates, permitindo que pequenos agricultores quenianos possam agora obter informações que lhes permitem melhorar sua adaptação às mudanças climáticas e aumentar a produção.
Uma vez lançado, o balão pode voar por mais de duas horas, podendo ser direcionado para coletar dados sobre temperatura, pressão, umidade, velocidade e direção do vento em qualquer altitude e locais-alvo. Os dados coletados são processados por um sistema de inteligência artificial, gerando previsões meteorológicas altamente precisas.
A Organização Meteorológica Mundial (World Meteorological Organisation) tem apoiado investimentos em tecnologias de ponta para obter previsões meteorológicas, climáticas e hidrológicas em países da África, onde apenas 40% da população tem acesso a essas previsões – é a menor taxa em todo mundo.
Chimango Nyasulu, um cientista da Universidade Mzuzu do Malawi, que usa IA e aprendizado de máquina para prever padrões climáticos e diagnosticar doenças em culturas na região do Sahel (próxima ao deserto do Saara), disse que, devido à facilidade de implantação, esses balões podem cobrir amplas áreas e que “na África, isso é especialmente útil em regiões isoladas ou subdesenvolvidas onde as estações meteorológicas convencionais podem não ser acessíveis. Os balões meteorológicos miniaturizados provavelmente serão mais econômicos do que as estações meteorológicas convencionais, permitindo uma implantação mais ampla sem ônus financeiro significativo”, disse Nyasulu à Nature Africa.
O sistema ajuda os agricultores a decidir os melhores momentos para plantar e colher, melhorando a produção e a segurança alimentar.
Nyasulu disse também que essa tecnologia oferece à África uma perspectiva revolucionária diante das mudanças climáticas, mas que também são necessários treinamento e envolvimento das comunidades locais.
É muito bom vermos inteligência artificial utilizada para promover o bem comum.
(*) Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas – vjnitz@gmail.com.