Vivaldo José Breternitz (*)
Em março passado parecia que a Apple havia superado a Covid: produtos como o novo iPhone SE estavam sendo entregues regularmente e a empresa estava se preparando para a volta de seus funcionários aos escritórios, três dias por semana. No início de abril, a Apple disse que esperava ter centenas de desenvolvedores presentes à sua tradicional Apple Worldwide Developers Conference (WWDC 2022) em junho.
Poucas semanas depois, as coisas estão parecendo muito diferentes. Com os casos de Covid crescendo novamente, a empresa suspendeu seu plano de retorno aos escritórios – a Apple esperava que seu pessoal trabalhasse nos escritórios às segundas, terças e quintas-feiras a partir de 23 de maio, mas agora, estranhamente, está pedindo aos trabalhadores que estejam presentes em quaisquer dois dias da semana.
A empresa disse aos funcionários que a mudança se deve ao aumento dos casos de Covid em áreas dos Estados Unidos, inclusive no Vale do Silício. Mas a mudança gerou dúvidas entre os funcionários: será que dois dias no escritório, ao invés de três, impedem o contágio?
Também os funcionários das lojas Apple estão sendo afetados por mudanças: a empresa notificou que em cerca de cem lojas dos Estados Unidos os funcionários deverão voltar a usar máscaras.
Além da sensação de caos que afeta os funcionários, há algo ainda mais problemático para a empresa: o impacto da pandemia na cadeia de suprimentos, que está prejudicando a capacidade da Apple entregar produtos, alguns dos quais como o Mac Studio somente estarão disponíveis no final de agosto. A empresa já disse que essas dificuldades de ordem logística reduzirão suas vendas em até US$ 8 bilhões no trimestre atual.
Do ponto de vista estratégico, talvez haja um problema ainda mais grave: como tudo isso afetará os novos lançamentos da Apple? Ela pretendia apresentar novos produtos durante a WWDC, mas, se está tendo dificuldades em entregar seus modelos atuais, será capaz de lançar novos?
Esses problemas da Apple estão sendo objeto de atenção da imprensa em função do tamanho da empresa, mas certamente inúmeras outras de menor porte estão vivendo problemas similares e talvez mais graves.
(*) Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de IoT