Dalton Locatelli (*)
Este será um ano no mínimo desafiador para as empresas que atuam no Brasil.
Além da guerra ideológica e de narrativas que já são esperadas por aqui devido às eleições presidenciais, todos nós teremos que lidar com as consequências de um conflito real na Europa que, ainda que venha a ter um rápido (e assim esperamos) desfecho, certamente trará impactos no comércio internacional e na chamada ordem mundial por muitos anos.
Um rápido olhar sobre essa situação pode levar qualquer um a pensar que viveremos um ano de caos no que diz respeito a investimentos estrangeiros por aqui. A partir de minha experiência à frente de uma empresa que representa legalmente mais de 500 empresas internacionais no Brasil, tenho motivos para manter o otimismo em relação ao fluxo de investidores em nosso país e à melhoria da economia como um todo.
Posso ser taxado de exagerado ou até de louco, mas a verdade é que alguns indicadores contribuem para que eu pense dessa forma. O primeiro argumento tenho encontrado “dentro de casa”. Desde o início do ano, o número de empresas estrangeiras que têm nos procurado em busca de auxílio para investir ou abrir uma operação no Brasil cresceu consideravelmente.
Invariavelmente, questiono os clientes sobre as razões pelas quais estão dando esse passo. As respostas são semelhantes: o Brasil tem um mercado enorme e de grande potencial, além de uma economia estável. Temos problemas? Claro que sim! Mas a grande maioria das grandes economias estão em dificuldades, enfrentando altos níveis de inflação, assim como o Brasil, e outras consequências trazidas pela Pandemia.
Essa tendência vem se comprovando por alguns números interessantes neste início de ano. Em janeiro, por exemplo, o índice Bovespa representou o terceiro melhor investimento do mundo, com forte recuperação em relação ao ano anterior. Nos dois primeiros meses, o Real também teve grande valorização frente ao Dólar, sendo uma das moedas que mais se valorizaram no período.
Outro aspecto interessante: embora estejamos presenciando uma guerra armada na Europa em pleno 2022, algo que parecia inimaginável, a invasão da Ucrânia pela Rússia vem fazendo com que investidores especializados em mercados emergentes tragam capital para o Brasil, o que gerará riqueza em nosso país. E somente gerando riqueza é possível fazer com que as camadas mais pobres da sociedade, que tanto sofreram durante a pandemia, sejam beneficiadas com mais emprego e renda.
Teremos sim dificuldades com fertilizantes, já que 80% do utilizado por nosso agronegócio é importado, em especial da Rússia e Belarus. Ainda assim, o Brasil continuará sendo o grande exportador de alimentos do mundo, e sua força no mercado de commodities deve garantir solidez econômica em meio a um momento de dificuldade global.
No campo político, é fato que o governo atual não conseguiu avançar o suficiente nas reformas estruturantes que são necessárias para o crescimento do Brasil, e fundamentais para modernizar a economia tendo em vista a atração de mais investidores. A aprovação do marco legal do saneamento, e das reformas previdenciária e trabalhista (esta ainda no governo Temer) foram vitórias que já trazem e continuarão trazendo benefícios no longo prazo.
Seja lá a qual campo ideológico pertencer o Presidente que será eleito este ano, manter o foco nas reformas será fundamental para dar sustentação ao futuro do País. O Brasil sempre será uma potência econômica e um mercado atrativo para os investidores. Só precisa parar de se “autossabotar”.
(*) – É sócio e presidente do conselho de administração da Pryor Global (https://pryorglobal.com/).