Rafael Bueno (*)
Os líderes de uma empresa são a representação do que é desejado naquele ambiente de trabalho e são responsáveis por garantir que o que é desejado pela organização não fique apenas no papel, mas seja colocado em prática. Partindo deste princípio, vemos a importância da Cultura Organizacional para os líderes.
A fim de entender como a cultura organizacional influencia na atuação dos líderes, começamos pela fundação da empresa. Em um primeiro momento uma organização é idealizada e criada por um empreendedor ou um conjunto de sócios e, neste instante, é definido o que será a empresa, de fato. Feito isso, é natural que os comportamentos, valores, crenças, tudo aquilo que esta liderança acredita e prega fará parte daquele negócio.
Estamos falando da Cultura Organizacional, que é a forma como as pessoas se comportam dentro da organização. A cultura engloba processos e métodos de trabalho, crenças e a história da organização, além de afetar o colaborador, sua relação com a empresa, sua rotina e, até mesmo, a decisão de seguir ou não prestando serviços, pois possibilita que a organização se estruture de maneira assertiva para atrair colaboradores enquadrados ao seu modelo de trabalho.
De uma forma bem direta, a cultura é o DNA da empresa, lembrando que não há como definir uma cultura certa ou errada, apenas o que será praticado e exigido dentro de cada organização. Não há uma “receita de bolo”. É o mesmo que considerarmos a pergunta ‘Qual país tem a melhor cultura do mundo?’. Não há um país com melhor cultura, mas o que cada um se adapta melhor.
O mesmo acontece com as empresas, não existe uma cultura certa, apenas a que cada colaborador se adapta melhor de acordo com suas habilidades, competências, comportamentos e, até mesmo, seus valores. Cada cultura é criada com base na estratégia, momento atual da empresa e em seus líderes como um todo. Por isso, tratamos do conceito de Evolução Cultural. A cultura da empresa não é algo fixo, ela é fluída.
Neste processo, as lideranças representam o que a Cultura Organizacional daquela empresa é de fato. Por esse motivo suas atitudes têm um peso muito forte e refletem naquele ambiente. Se as lideranças apresentam um comportamento, ele é visto como permissível pelos colaboradores, que passam a acreditar que tal comportamento é aceitável, portanto pode ser reproduzido.
Em suma, a Cultura Organizacional passa primeiro pela alta liderança, com os sócios, CEO ou líderes, assim como diretores. Desta forma, podemos identificar a Cultura Presente, aquela que pode ser observada no dia a dia da empresa, sendo percebida, não imposta. A cultura desejada, por outro lado, é estruturada a partir da avaliação de comportamentos esperados pela alta liderança no dia a dia dos colaboradores.
Simultaneamente, é costumeiro escutar as pessoas de dentro das empresas, para que sejam representadas e realizar uma análise do que se espera para o futuro da organização, além de resgatar suas raízes, para que elas não se percam. Baseado nessas informações, é projetado um plano do que se espera nos comportamentos futuros: a Cultura Desejada.
Uma vez predeterminada esta Cultura Desejada, é papel dos líderes disseminá-la e observar os comportamentos presentes para incentivar os colaboradores que apresentam o comportamento esperado, além de orientar e alinhar estes comportamentos onde eles não estiverem sendo praticados também, garantindo que a cultura desejada esteja presente e deixando claro que algumas atitudes não serão aceitas naquele ambiente de trabalho.
Ou seja, é preciso não apenas desenvolver comportamentos, como também remover comportamentos. O papel dos líderes em relação à cultura organizacional das empresas é observar, perceber, trabalhar e conduzir as atitudes corretas, além, é claro, de ser o exemplo. Esclarecer os comportamentos que serão valorizados e incentivar que os mesmos sejam praticados é muito importante.
Por exemplo, se uma empresa zela pela produtividade, os líderes devem trazer métricas e dados voltados à produtividade nas pautas de reunião de equipe, assim todos saibam o que será valorizado. Da mesma forma, será cobrado dele, em reuniões com seus superiores, que demonstre os resultados em relação à produtividade da equipe.
Uma empresa que tem em sua cultura a cooperatividade de colaboração, deve ter troca de experiências e trabalhos entre os times, para incentivar que os mesmos ajam da maneira esperada. Podemos utilizar rituais, processos e métricas como forma de conduzir o assunto dentro da empresa. É possível utilizar reuniões para apresentação de resultados, painéis com os números alcançados, atualizações por e-mail, entre outros, em torno da Cultura Organizacional, incentivando comportamentos esperados.
Quando falamos destes comportamentos, é possível que haja competências necessárias para que um colaborador consiga trabalhar de forma satisfatória naquele ambiente. Esta competência pode ser técnica, interpessoal, essencial ou de entrega. A penúltima, trata de competências voltadas a comportamentos que trarão um maior alinhamento cultural. Não é eficaz simplesmente apontar os erros cometidos, pelo colaborador ou pelo líder, sem lhe dar uma instrução ou sugestão clara de como evoluir neste quesito.
Ao invés de dizer a um líder que ele não está tendo um bom trabalho de feedback com a seus colaboradores por exemplo, é possível sugerir reuniões com a equipe para criar um ritual de troca de experiências e reconhecimento, apresentando isso como uma tarefa (com deadline e apresentação de resultados), mas ao mesmo tempo orientando-o de como melhorar.
É possível sugerir um processo, um método e um ritual específico para garantir que aquilo de fato seja exercitado, criando algo concreto e não apenas apontando um erro. O mesmo vale do líder para a equipe, ao invés de apenas sinalizar que algo não está sendo feito com qualidade, é preciso treinar e capacitar o colaborador para realizar a ação da maneira correta, dando um direcionamento concreto. É assim que a Cultura Organizacional deve ser trabalhada.
Existem, é claro, alguns pontos que uma organização pode não aceitar vindo de suas lideranças. Comportamentos positivos, porém não alinhados com a sua Cultura Organizacional são aceitáveis, mas comportamentos desfavoráveis para o todo não são permissíveis. Podemos citar aqui a falta de respeito ou discriminação de outros colaboradores.
O comportamento dos líderes ‘contamina’ seus liderados, disseminando os comportamentos praticados por ele. O líder é o “exemplo”, portanto deve estar alinhado com os comportamentos esperados, refletindo-os .
(*) – Bacharel em Ciências da Computação, pela UniFieo, possui MBA em Engenharia de Software, é Co-fundador e CEO da TeamCulture, HR Tech referência em gestão de pessoas (https://teamculture.com.br/).