Pois saiba que a falta de um dos dois é fatal para qualquer empresa, de qualquer tamanho, em qualquer segmento de negócio, em qualquer país.
E vou convencer você com somente dois argumentos: se você não se afastar da operação para ser estratégico enquanto alguém toca seu negócio, dificilmente sua empresa continuará eficiente e alinhada às demandas do mercado. E se quando você se aposentar, ou morrer (desculpe), não tiver alguém que entenda do negócio a fundo e sua operação, a empresa se aposenta ou morre junto com o fundador.
Concorda?
E isso acontece com muito mais frequência do que se imagina.
E é normal que os herdeiros não queiram seguir os passos do fundador e nem trabalhar nos negócios da família. Tudo bem.
Mas nesses casos, o fundador precisa abandonar o romantismo e trazer – ou formar – um baita gestor. Alguém que toque o negócio com eficiência e paixão. E nunca será como o fundador toda. Tem que ser diferente, com estilo próprio, mas com o mesmo propósito e as mesmas responsabilidades, que vão crescendo gradativamente à medida em que o fundador vai dando mais poder e promovendo este gestor.
Quer um exemplo: a Luiza Trajano é fundadora e tia da Luiza Helena Trajano, que é mãe do Frederico Trajano, atual CEO do Magazine Luiza. O mesmo movimento de capacitação do herdeiro aconteceu na Tramontina, Hering e até no Grupo Silvio Santos.
Já Amador Aguiar, fundador do Bradesco, trouxe uma gestão profissionalizada, formando seus executivos dentro de casa por meio de uma cultura própria do banco. O mesmo aconteceu com a GE, que teve à sua frente por muitos anos Jack Welch, que liderou o processo de reestruturação do negócio.
A transição da gestão, e do poder, nem sempre é natural e harmoniosa.
Muitas vezes os colaboradores, e o mercado, fazem menção à contribuição do empreendedor que fundou o negócio, ao seu legado, ao seu estilo, à sua forma de se mostrar presente. Entre outras grandes responsabilidades, precisa manter a cultura, os hábitos e o respeito ao propósito do negócio vivos e ativos!
E substituir esta figura, sempre é um desafio para o herdeiro, para o sucessor ou para o gestor que sentará na cadeira mais alta da hierarquia do negócio.
Um caminho, na minha visão, para garantir a sucessão, seja para o herdeiro ou o executivo profissional, é usar os Cinco Pilares da Cultura do Negócio, criado pelos Empreendedores Compulsivos (ou família, ou reino):
1.Construir valores claros e compartilhados;
2.Estar presente e representado por símbolos e rituais;
3.Estabelecer, divulgar e buscar metas claras e sustentadas pela estratégia
4.Atuar como guardião do negócio, da estratégia e da cultura, mesmo à distância;
5.Aprender com os erros e celebrar as pequenas vitórias.
Podemos até fazer uma analogia com o recente processo de sucessão da família real. Uma líder que ficou no poder por tanto tempo, passando por tantos momentos emblemáticos do mundo, consolidou sua imagem à frente do reino, de forma discreta mas perceptível. Sem bem que pelas cores dos vestidos talvez discreta não seja a palavra, mas você entendeu meu ponto.
A figura real que no passado poderia simbolizar opressão ou proteção, poder e riqueza, hoje tem outro significado, mas com a mesma importância e relevância. Ela garante uma união mesmo a distância, um senso de pertencimento, uma segurança psicológica para quem está sob seu manto.
Em nenhum momento tive dúvidas sobre o respeito à figura da rainha, à nação e seus valores, seja por um servidor público, um empresário ou cidadão britânico.
Fazendo uma analogia com a cultura empresarial, a rainha com certeza usava os Pilares da Cultura do Negócio. A sua empresa tem esta visão? Você constrói uma “Gestão Elizabetana”? Pois fica a dica. É um bom caminho para manter o time unido e engajado.
E perdão, King Charles, mas 𝕲𝖔𝖉 𝖘𝖆𝖛𝖊 𝖙𝖍𝖊 𝕼𝖚𝖊𝖊𝖓!!
Alessandro Saade – Fundador dos Empreendedores Compulsivos, é também executivo, autor, professor, palestrante e mentor. Possui mais de 30 anos de experiência atuando com grandes empresas e startups brasileiras, tornando-se referência no universo do empreendedorismo no Brasil. Formado em Administração pela UVV-ES, com MBA em Marketing pela ESPM e mestrado em Comunicação e Mercados pela Cásper Líbero, especializou-se em Empreendedorismo pela Babson College e em Inovação por Berkeley. Atualmente é Superintendente Executivo do ESPRO, instituição sem fins lucrativos que há 40 anos oferece aos jovens brasileiros a formação para inserção no Mundo do Trabalho.