Alessandro Saade (*)
Com o retorno às atividades presenciais e a vida ao ar livre, passei a perceber a volta de hábitos culturais dos brasileiros.
Não sei se você já percebeu, mas quanto maior a cidade, mais demoramos para desacelerar ao final do dia. Isso nos faz procurar os últimos ingredientes do jantar após as dez da noite no supermercado ou nos leva a uma loja de conveniência de algum posto de gasolina para completar o estoque de gelo ou bebidas de nossa casa. Mesmo tendo agora um universo de aplicativos e sites de entrega.
Bem, o que fez surgir os aplicativos e faz esses estabelecimentos ficarem abertos até mais tarde, à nossa espera, é o conceito de conveniência!
Esse conceito tem como precursor os postos de gasolina americanos na década de 80, que ofereciam somente combustíveis, com autoatendimento e sem troca de óleo ou qualquer outro serviço adicional. Como precisavam aumentar a rentabilidade, decidiram agregar a venda de produtos prontos, com baixa complexidade de armazenamento e venda, como refrigerantes, salgados industrializados e cigarros. Isso foi evoluindo e hoje temos verdadeiros mercados, lanchonetes e cafeterias instaladas nas lojas dos postos. Até itens de mercado de bairro podemos encontrar, como detergente ou inseticida. Assim como os demais segmentos do mercado, a onda chegou aqui e rapidamente se espalhou por todo o país.
Mas vamos diversificar a análise da conveniência. Já percebeu que muitas padarias fecham mais tarde? Que alguns supermercados nem fecham mais? E que os Pet Shops seguem a mesma movimentação?
Pois bem, as empresas sempre se adequam ao novo ambiente, às nossas novas necessidades, por mais estranhas que possam parecer no início. E os mais rápidos na compreensão dessa necessidade acabam com a maior fatia do mercado.
Há um tempo li um livro de áudio-ajuda – isso mesmo ÁUDIO-ajuda – onde o autor se auto-intitula “personal Ipoder”. É o seguinte: o livro mostra diversas listas de músicas para servirem de fundo musical para o dia-a-dia, desde o café da manhã, preso num engarrafamento ou uma noite romântica, chegando a extremo de indicar uma trilha sonora para velório! E não para por aí. O autor oferece um serviço onde após um bate-papo com você, para entender seu estilo, ele prepara seu podcast pessoal e você só tem que sair ouvindo.
Hoje temos os mais diversos serviços, como organizador de armários, marido de aluguel (só para trocar a lâmpada, desentupir a pia e fixar o varal) e até organizadoras de casamento, que após a noiva escolher o noivo ela se encarrega de todo o resto!
Entretanto, sofisticamos cada vez mais os nossos desejos e acabamos não atendidos nos desejos mais simples e necessários. É a hiper-sofisticação das grandes cidades.
E tudo movido a conveniência!
(*) É Fundador dos Empreendedores Compulsivos, é também executivo, autor, professor, palestrante e mentor. Possui mais de 30 anos de experiência atuando com grandes empresas e startups brasileiras, tornando-se referência no universo do empreendedorismo no Brasil. Formado em Administração pela UVV-ES, com MBA em Marketing pela ESPM e mestrado em Comunicação e Mercados pela Cásper Líbero, especializou-se em Empreendedorismo pela Babson College e em Inovação por Berkeley. Atualmente é Superintendente Executivo do ESPRO, instituição sem fins lucrativos que há 40 anos oferece aos jovens brasileiros a formação para inserção no Mundo do Trabalho.