Thomas Gautier (*)
Há alguns meses, especialistas da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, realizaram um experimento.
Eles testaram a capacidade que um modelo de Inteligência Artificial da OpenAI teria para gerir e liderar uma empresa. A IA se saiu muito melhor na maioria das métricas avaliadas. No entanto, acabou “demitida” por uma razão simples: a dificuldade de lidar com incertezas, mudanças repentinas de rota e imprevistos.
A vantagem competitiva não vem somente da tecnologia. Por mais avançado que seja um recurso tecnológico frente aos da concorrência, ele também não leva sozinho uma empresa a um novo patamar. Para se destacar no mercado, é preciso compreender os limites e as possibilidades das ferramentas que temos para melhorar o desempenho dos negócios.
O capelão humanista da Universidade de Harvard e do Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT), Greg Epstein, já escreveu sobre os riscos de a tecnologia ter se tornado uma “religião” e a necessidade de voltarmos a ser agnósticos. A chave para navegar em um ambiente de rápidas transformações é pensar o tempo inteiro sobre o quanto habilidades naturais e artificiais são complementares.
Da mesma forma que a máquina acelera o resultado das equipes, o humano impulsiona os resultados que a máquina entrega. O problema é incorrer no erro de subestimar o papel das pessoas no processo.
É natural pensar na importância delas. No entanto, há negócios surgindo dispostos a apostar todas as suas fichas na tecnologia e esquecer o quanto 10 ou 20 anos de experiência acumulada no setor, vivência em diferentes situações na carreira e olhar humano podem ser tão ou mais importantes para a performance da companhia.
Aplicar tecnologias sem antes repensar modelos estrategicamente, nem considerar o perfil das pessoas, pode levar ao efeito inverso do desejado. Em vez de garantir assertividade, acabar acelerando erros a ponto de ser muito custoso mitigar seus efeitos. Se as incertezas são o ponto fraco da inteligência artificial e o mundo em que vivemos é repleto de mudanças, dá para imaginar o espaço que ainda temos para as habilidades humanas nas empresas.
Na época em que Steve Jobs “reinventou o telefone”, como ele mesmo disse, trouxe à tona diferentes necessidades que nem mesmo o consumidor sabia que tinha. A partir de sua observação única de cenário e visão de futuro, algo que talvez nenhuma base de dados tivesse condições de sugerir.
Um exemplo de outro segmento é a atuação de equipes em desastres naturais. Quando acontecem, as ações de apoio são dinâmicas. Ainda que os dados apontem uma área menos danificada pelos eventos, ela pode demandar prioridade no atendimento. Há a necessidade de intermediar conflitos de interesse para a distribuição de ajuda, assistir vítimas em choque. Se dois hospitais locais forem atingidos com danos moderados, para qual enviar pessoas feridas? A inteligência humana possui mais condições de tomar decisões eficientes nesses casos.
Assim é o dia a dia. A gestão de uma empresa tem que se adaptar às demandas dos times, compreender emoções para relacionamento com cliente, encontrar soluções fora do script. Para nosso trabalho se destacar, precisamos favorecer esse equilíbrio.
Construir uma cultura que gosto de chamar “digital raiz”. Digital para acelerar com a tecnologia e personalizar soluções a partir de dados. Raiz para, por meio das emoções, do conhecimento e das habilidades, entender a medida do que pode ser transformado e a forma de transformar.
E você? Já está pronto para substituir um robô?
(*) Tem duas décadas de experiência em grupos internacionais e assumiu como CEO do Freto em 2021.