Marco Stefanini (*)
A crise provocada pelo coronavírus exige calma para não colocar a empregabilidade em risco nem gerar um colapso econômico e social
Minha avaliação é que o mercado corporativo brasileiro poderia ter um pouco mais de cautela perante a crise gerada pela pandemia do coronavírus. Diferente de outros países, que têm tentando preservar os empregos e o pagamento dos fornecedores, temos observado no Brasil uma impetuosidade das empresas em reduzir parte dos serviços contratados ou postergar os pagamentos.
Entendemos que a situação é crítica no mundo inteiro, que o vírus chegou como um tsunami em vários países, e que a interrupção de vários serviços neste momento impacta a economia em diferentes proporções. Independente das dificuldades impostas pela pandemia, reforço que este não é o momento de enfraquecer a empregabilidade.
Na prática, as grandes empresas têm duas formas de demitir: os próprios funcionários, que é um processo mais desgastante e caro, ou reduzindo os fornecedores, que acabam sendo obrigados a demitir em massa. É a chamada demissão indireta, já que as empresas de serviços têm um fôlego financeiro muito menor que as grandes corporações.
Outro ponto que precisa ser observado é que as grandes empresas têm patrimônio e conseguem mais facilmente controlar o capital de giro e buscar empréstimos, se necessário. No caso das menores, o custo maior está na folha de pagamentos. Portanto, na cadeia produtiva, são as mais frágeis. Se há quebra de contrato em meio à crise, ou se os pagamentos são adiados, cria-se uma instabilidade financeira propícia à ampliação das demissões, seguindo um efeito dominó sem precedentes.
Por isso, o momento exige calma, resiliência e criatividade para atravessar a crise. Mantendo nossos quadros, ajudaremos a evitar ou minimizar um possível colapso econômico e social. Felizmente, as soluções digitais, que tiveram um impulso ainda maior durante a pandemia, permitem que as pessoas trabalhem de casa com segurança, mantendo a produtividade e quebrando paradigmas sobre o home office.
Além de manter os nossos colaboradores, temos a responsabilidade com a sociedade em geral. Daí a importância de segurar os empregos até termos uma visibilidade maior da crise. E quando digo isso, me refiro também a colaborar com a empregabilidade de nossos parceiros, mantendo os compromissos assumidos previamente.
Sabemos que existe uma preocupação generalizada com o efeito da pandemia nos negócios, mas já vivemos tantos períodos conturbados na economia brasileira, que este será mais um. A crise é abrupta, forte, porém rápida. Em três meses tudo isso passará e, mais do que nunca, precisaremos das pessoas para retomar as atividades e garantir que a economia gire.
Acredito que é hora de repensar qualquer ação de certa maneira imediatista. Atuando em 41 países, percebo que na maioria deles existe uma preocupação das grandes empresas em manter os contratos com os prestadores de serviços. Na Europa e Estados Unidos, que têm vivenciado fortemente o impacto do Covid-19, o fluxo de caixa da nossa empresa em março se manteve quase que o mesmo em relação aos meses anteriores.
As lideranças sabem que o emprego pode ajudar a reerguer os países após o coronavírus, e que também os provedores são importantes para quando a crise passar. Em compensação, no Brasil, é bem maior o número de empresas pedindo a suspensão de contratos por um determinado prazo ou o corte de parte dos serviços. Ao agir no ímpeto, pode-se colocar em risco a economia como um todo e o market share da própria empresa na retomada da economia.
O grande aprendizado, neste momento, é procurar respeitar a cadeia produtiva para que possamos encarar o que vem por aí, retomar as atividades o mais rapidamente possível para que 2020 não seja mais um ano perdido.
(*) – É fundador e CEO global da Stefanini, multinacional brasileira presente em 41 países e participante do movimento #Não Demita.