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Telemedicina no Brasil – precisamos refletir sobre a regulamentação

em Opinião
segunda-feira, 30 de março de 2020

Vitor Moura (*)

Há um Brasil desconhecido. Um Brasil que não se atenta para a sua própria saúde.

Um número assustador de 170 milhões de pessoas, aproximadamente, que não possuem nenhum plano de saúde e, para quem o acesso a um médico ou mesmo a um tratamento da rede pública, pode demorar meses. Destaco que não estamos falando de qualidade de tratamento, mas das dificuldades em ter acesso a algum tipo de especialidade.

Precisamos ter consciência que promover a saúde é um dever do Estado e, mais do que um direito do cidadão, um dever de cada indivíduo e por isso há uma necessidade grande em desatar o nó em que nos enfiamos, quando tratamos da adoção da telemedicina no Brasil. Na China, onde o número de pessoas ultrapassa a casa dos 1,3 bilhões, há soluções simples e a telemedicina é uma delas, altamente praticada.

Por exemplo, a empresa Ping An Good Doctor lançou uma plataforma de assistência médica com inteligência artificial que vai desde consultas até entrega de medicamentos em casa e atende mais de 260 milhões de pacientes no país. A mesma empresa recentemente apresentou minilaboratórios para diagnóstico expresso – as clínicas de um minuto. O paciente entra num compartimento individual, semelhante às cabines fotográficas, descreve os sintomas para um médico digital que faz a triagem e encaminha para uma teleconsulta com um especialista.

Consultado e diagnosticado, o paciente pode adquirir ali mesmo os remédios e começar o tratamento. Toda a nova tecnologia que promove o acesso a serviços, antes restritos a uma parcela da população, gera polêmica e questionamentos fazem parte do processo de mudança que precisa ser entendido por órgãos reguladores e prestadores de serviço, e levado também para os consumidores, para que os possíveis beneficiários possam avaliar.

Em janeiro, a Universidade de Bath, no Reino Unido, anunciou que cientistas desenvolveram um exame rápido que conseguia diagnosticar infecções urinárias com mais agilidade. O exame era semelhante aos testes de gravidez e é realizado por um dispositivo que utiliza uma câmera de smartphone capaz de identificar a presença de determinada bactéria em uma amostra de urina e o resultado é conhecido em até 30 minutos.

Isso é outro exemplo do que o avanço das tecnologias de comunicação e informação é capaz de fazer pela humanidade e, se abster de utilizar os benefícios que esses avanços podem promover, é no mínimo leviandade e falta de compromisso social. Com a promoção e autorização do uso da telemedicina poderemos ganhar e melhorar a qualidade de vida nos mais distantes rincões do Brasil, lugares onde muita gente não sabe o que existe em termos de facilidade para os cuidados com a saúde.

Imagina o uso da telemedicina em estados como Amazonas e Pará, onde só se consegue atingir localidades por intermédio de barcos e o acesso à saúde é precário. Se nos grandes centros, em uma capital como São Paulo, o tempo médio de agendamento de consulta no SUS, em 2018, era de 85 dias, como agir em localidades como Amazonas e Pará?

Já que falamos sobre Amazonas, um exemplo que está dando certo foi anunciado no final do primeiro semestre do ano passado. Foi criado o Projeto Regula+Brasil com a finalidade de fortalecer e agilizar o atendimento na Rede Básica e reduzir o tempo de espera no SUS daquele Estado. O projeto faz parte da integração do poder público com o setor privado e vai ajudar o paciente que precisar de atendimento especializado a passar por uma avaliação feita por uma equipe de médicos.

Os profissionais participam do núcleo remoto de regulação e, de forma integrada, de uma rede de Telemedicina e avaliam, com bases em protocolos, o caso do paciente. O objetivo é de acelerar o processo de direcionamento aos ambulatórios especializados.
Há pesquisas do Conselho Federal de Medicina que apontam que a população brasileira chega a esperar até seis meses para agendar uma consulta ou exame com especialistas no SUS.

O mesmo período poderia ser aproveitado para a descoberta e tratamento de muitas doenças, evitando assim gastos futuros desnecessários aos cofres públicos. Isso é integração de tecnologias e uso inteligente dos recursos disponíveis, é benéfico para o governo e para a população. Isso é inteligência. A prevenção é a melhor forma de cuidar da saúde. Iniciativas como a telemedicina surgem como uma ferramenta de diagnóstico rápido e versátil em nossa sociedade.

A telemedicina, a exemplo do que já acontece nos países desenvolvidos, vai trazer muitos benefícios para os pacientes no Brasil. Estamos no início de uma revolução digital na saúde que indica tanto uma mudança na forma como falamos com os médicos, como na forma que diagnosticamos e tratamos as doenças.

(*) – É CEO do VidaClass.