Taisa Cecilia de Lima Caires (*) e Camila Daniele Honório (**)
A Universidade exerce um papel fundamental de formar e preparar pessoas para produção científica e atuação no mercado de trabalho
Faz parte deste papel, assegurar que os alunos sejam capazes de utilizar o conhecimento adquirido no ambiente acadêmico, conectar com as tendências e inserir práticas em seu dia a dia pessoal e profissional.
Isso não é diferente quando o tema é sustentabilidade. Este assunto tem sido discutido em todas as esferas da sociedade desde 1968, quando o Clube de Roma, uma ONG que reúne profissionais de diversas áreas (diplomacia, universidade, sociedade civil, empresas etc.) publicou o Relatório Limites do Crescimento que propõe que para manter o equilíbrio econômico e ambiental é necessário que haja um congelamento no crescimento da população global.
O tema volta ao cerne das discussões globais em 1987 quando, a Comissão Mundial de Desenvolvimento e Meio Ambiente da ONU, divulgou o Relatório Nosso Futuro Comum ou Relatório Brundtland que definiu o que é desenvolvimento sustentável e, em 1992 durante a ECO 92, quando a comunidade internacional definiu uma agenda com compromissos com a mudança de padrão de desenvolvimento no século 21.
Em 1990, Elkington apresentou o conceito do Triple Botton Line (TBL – People – Pessoas, Planet – Planeta, Profit – Lucro) como uma tradução do tema ao mundo dos negócios, onde a sustentabilidade neste contexto seria o equilíbrio entre os aspectos sociais, ambientais e econômicos. A partir de então, o ambiente empresarial tem abordado o assunto como tema estratégico e fator de diferencial competitivo, conforme proposto por Milkovich e Boudreau, “uma vantagem competitiva sustentável ocorre quando uma empresa implementa uma estratégia de criação de valor que não esteja implementada simultaneamente pelos concorrentes de forma real ou potencial, e quando outra organização é incapaz de copiar os benefícios dessa vantagem”.
Inúmeras iniciativas buscaram aprofundar tais discussões no Brasil, de forma a contribuir com as empresas na implementação estratégica do tema e na geração de competitividade, como o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), que aborda as vantagens da inserção da sustentabilidade como uma forma de se fazer gestão; a Fundação Dom Cabral (FDC), que tem realizados estudos sobre o estado da sustentabilidade nas empresas brasileiras, de forma a identificar evolução da sustentabilidade corporativa no Brasil e; o Observatório de Tendências em Sustentabilidade (NEXT) que tem se aprofundado em alguns temas, de forma a contribuir com desenvolvimento dos profissionais que atuam com sustentabilidade nas empresas brasileiras.
Apesar dos avanços neste contexto, sabe-se que as empresas possuem duas grandes preocupações: uma de como tornar a “sustentabilidade” mensurável e tangível e; outra sobre como formar profissionais para atuar com este tema nas empresas. O conceito de ciclo de vida é uma das formas possível de tornar o tema tangível, pois norteia a mensuração e o gerenciamento da sustentabilidade, uma vez que considera os aspectos ambientais e os impactos potenciais atrelados ao ciclo de vida de um produto, desde a extração da matéria prima (nomeada como berço) até a disposição final, após seu uso (nomeada como túmulo).
Além disso, fornece informações importantes sob o ponto de vista ambiental, social, econômico quanto a aspectos da extração de materiais; necessidade de substitutos de menor impacto; dados quantitativos dos gastos de recursos naturais; resíduos gerados na produção, mão de obra envolvida, distribuição, destinação e impactos ambientais pós-consumo.
Quanto a formação de profissionais para atuação neste tema, sabe-se que existe um déficit de especialistas em ciclo de vida. Cada vez mais as empresas e instituições estão em busca de pessoas com este olhar amplo e voltado para a sustentabilidade aplicada, e a universidade exerce um papel fundamental neste processo.
Desta forma, o horizonte de atuação para este profissional é extenso, pois o conceito contribui para a tomada de decisões mais criteriosas e desenvolve olhar sistêmico, de forma a orientar a mitigação de impactos, visualização dos benefícios globais de suas escolhas e identificação de oportunidades de novos negócios.
(*) – Consultora de Educação Socioambiental da Fundação Espaço ECO®; (**) – Consultora de Gestão Aplicada a PME’s da Fundação Espaço ECO®.