Gustavo Rodrigues de Oliveira (*)
O Brasil está sendo afetado pelo fenômeno da renúncia ou grande resignação. Segundo números oficiais, o Brasil fechou o ano de 2021 com 12% de desemprego.
O índice é bem maior que dos Estados Unidos, que encerrou o ano com cerca de 4% da população sem emprego formal. Mas há pelo menos um dado que aproxima os dois países e tem intrigado especialistas no assunto: mesmo em plena crise econômica, nunca tantas pessoas pediram demissão de seus empregos.
A verdade é que a grande fundamentação para tantos abandonos é o alto nível de insatisfação com o clima organizacional, estrutura, relacionamento e elementos de pressão que fizeram as pessoas no período pandemia e pós-pandemia pensar e reavaliar os valores e suas práticas cotidianas, dando importância a questões essenciais como família, filhos e até mesmo tempo para redescobrir as necessidades de praticar atividades físicas.
Do outro lado, estão associadas tarefas com alto índice de exaustão, jornadas prolongadas e salários cada vez mais arrochados, além dos índices de burnout crescentes, como fatores decisivos para a mudança de postura. Segundo dados do Caged, homens, que representam quase 60% dos trabalhadores com carteira assinada do país, foram mais ativos nos pedidos de demissão do que mulheres. No caso delas, o pedido de demissão se dá pela necessidade de cuidar dos filhos.
Os tempos mudaram e o comportamento obedece a uma nova lógica: não se permite mais trabalhar sem saber o porquê ou para quem, e isso não está entre as prioridades das gerações contemporâneas, tendo em vista que hoje ocupam a principal força de trabalho na maioria das empresas, seja nos cargos mais operacionais até as posições de gerência ou executivas.
A forma de se relacionar com o trabalho mudou e o salário, estabilidade e título de cargo não são por si só apenas meros atrativos. Se não houver formas de conciliar rotina, hábitos saudáveis e equilíbrio mental, as empresas continuarão perdendo sua força de trabalho para algo que é indiscutível nesta incansável busca: prazer, bem-estar e satisfação pessoal. Nesse sentido, algumas questões são essenciais para a retenção de talentos nas empresas.
Como, por exemplo, manter um clima organizacional positivo, estabelecer relacionamentos abertos e transparentes, dar e receber feedbacks com regularidade, apostar no plano de carreira, investir em treinamentos, ofertar meios alternativos e flexíveis de prestação de serviços, fortalecer a cultura de qualidade de vida no trabalho, estabelecer uma política clara de remuneração com base em perspectivas reais de crescimento e uma cesta de benefícios compatíveis com o mercado e com a prática dos concorrentes.
Em síntese, no cenário pós pandemia, surgem como força de atratividade os benefícios flexíveis, como as iniciativas das empresas que apoiam diretamente na compra de casa ou carro, no cuidado da saúde física e mental, na construção do plano de previdência, entre outros.
Ou seja, procuram vantagens que se ajustem às próprias demandas e necessidades, sem afastar a possibilidade de conseguir os já conhecidos benefícios tradicionais. O que está em jogo é definitivamente o bem-estar do empregado e as condições que sua força de trabalho pode proporcionar segurança a seus familiares, entregando assim mais que salários.
Nesse cenário, as estatísticas indicam que cerca de 94,2% dos profissionais com carteira assinada querem continuar trabalhando remotamente, e a oferta de atividades em home office, para cerca de 96,7%, é considerado como benefício e diferencial na hora de escolher a empresa onde desejam trabalhar, sendo então um fator importante e decisivo.
(*) – Doutor em Políticas Públicas, coordenador do Curso de Administração de Empresas da Faculdade Santa Marcelina, é docente nos cursos de Medicina e Administração de Empresas da mesma instituição.