Arnaldo Francisco Cardoso (*)
Estratégias demandam planejamento, inteligência competitiva e informações.
Em um mundo marcado por avanços tecnológicos da era digital, competição acirrada e ambiente de incertezas, organizações e profissionais das mais diversas áreas se defrontam, entre outros desafios, com o de organizar e dar sentido estratégico ao volume exponencial de dados gerados diariamente.
Certamente os usos da Inteligência Artificial e do Big Data tem contribuído para dar alguma ordem ao caos, mas interpretar, conceber estratégias, fazer escolhas, continuam sendo ações que os homens fazem melhor. Ou deveriam fazer. É nesse contexto que se torna oportuno recordar ensinamentos de pensadores como o general, estrategista e filósofo chinês Sun Tzu, que viveu no século V a.C. e escreveu o clássico ‘A Arte da Guerra’ do qual podemos extrair alertas como “Tática sem estratégia é o ruído antes da derrota”.
A obra de Sun Tzu é referência frequente em análises e estudos das Relações Internacionais e, no contexto do pós-Segunda Guerra Mundial, passou a ser também lida e citada por autores da área da Administração, embasando teorias sobre estratégias de negócios. Mas quais fatores permitem estabelecer um paralelo entre o mundo dos negócios e o campo de batalha das guerras?
Com a intensificação dos processos de internacionalização de empresas e mercados e o aumento da competição internacional, executivos das grandes empresas se viram diante da necessidade de analisar as forças e fraquezas de suas organizações e dos concorrentes, para então conceber estratégias visando a conquista de espaço mercadológico.
Mas quem concebe as estratégias? – Em estruturas organizacionais verticais, a concepção de estratégias é atribuição daqueles que ocupam os cargos de direção. Em seguida, são transmitidas as diretrizes para os níveis tático e operacional. Os profissionais do nível tático trabalham com o detalhamento dos planos de ações e estabelecimento de metas e, aos profissionais do nível operacional cabe a execução das metas.
Embora em estruturas verticais os colaboradores tenham alguma autonomia para tomada de decisões, a concepção estratégica continua sendo concentrada. Mas o que de mais grave pode ser observado em muitas empresas são os níveis tático e operacional caminhando sem uma concepção estratégica. Operando em ritmo frenético, muitas organizações empregam todos os recursos técnicos e humanos no cumprimento de metas de curto prazo, que vão sendo atualizadas por novas metas, mas sem um planejamento estratégico.
Estratégias demandam planejamento, inteligência competitiva, simulação de cenários e equipes capacitadas para a transformação de dados e informações em conhecimento. É preocupante constatar que, ao mesmo tempo em que as sociedades contemporâneas têm demandado novas soluções para velhos e novos problemas, tem-se registrado um desperdício do mais rico capital das sociedades humanas: a energia e capacidade criativa das novas gerações.
Desempregados ou sub-empregados, milhões de jovens pelo mundo veem frustradas suas melhores expectativas. Na Europa, onde são elevadas as taxas de formação acadêmica e qualificação da mãos-de-obra de jovens, se registram também altas taxas de desemprego e emprego precário entre os jovens. O sociólogo sul-coreano Byung-Chul Han, professor da Universidade de Berlim e autor de livros como ‘A Sociedade do Cansaço’, faz um alerta muito oportuno quando aponta que “hoje o indivíduo se explora e acredita que isso é realização”.
Ainda no tocante ao trabalho, nos últimos anos tem se falado muito da importância das soft skills, mas pouco tem sido criado de reais oportunidades para o melhor emprego dessas habilidades comportamentais. A pandemia do coronavírus também pôs em evidência um arsenal extraordinário de recursos tecnológicos cujas potencialidades ainda não foram plenamente aplicadas. Diante da mais séria emergência global de saúde, a humanidade está perto de registrar um feito histórico de grande importância, o do desenvolvimento de uma (ou várias) vacina(s) em tempo recorde.
E tem sido na área da saúde que muitas iniciativas têm revolucionado os meios de acesso e apropriação de conhecimentos valiosos – cita-se as várias aplicações da telemedicina – que podem ampliar e melhorar a capacidade das sociedades em educação, qualificação, prevenção e tratamento da saúde.
Para as empresas, grandes ou pequenas, além da boa gestão de recursos tecnológicos e de habilidades e competências de indivíduos e equipes, o verdadeiro diferencial estará na capacidade de concepção e implementação de estratégias que engajem profissionais em função de um sentido que transcenda a mera conquista de mercado e de remunerações ao investimento e ao trabalho.
Aos jovens está colocada a missão de assumir responsabilidades na correção de rumos e agir para que recursos tão extraordinários como os que hoje estão disponíveis não sejam consumidos por projetos que amesquinham o presente e o futuro.
(*) – É professor e pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie Alphaville.