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Quanto vale um pagamento?

em Opinião
terça-feira, 15 de maio de 2018

Antônio Neto (*)

O mercado de meios de pagamento há pelo menos oito anos cresce de forma saudável e carrega sozinho parte expressiva do nosso PIB

Em 2016, as operações com cartão subiram 6% na modalidade crédito e 5% na modalidade débito. Mas mesmo diante deste cenário “mágico”, os primeiros obstáculos para o crescimento começam a surgir e é preciso se reinventar. O ritmo de expansão dos grandes players é cada vez mais arrastado devido à explosão de novos entrantes. A crise financeira forçou a redução das margens para preservar a saúde dos lojistas. Mesmo assim, não ocorreu redução dos custos com bandeiras e bancos para as processadoras.

Os obstáculos de negócio são potencializados por recentes mudanças na regulamentação do sistema de pagamentos. Um exemplo foi a nova quebra de exclusividade de bandeiras realizada em 2017. Bandeiras processadas apenas pela Rede, como Hipercard, ou American Express no caso da Cielo, foram liberadas para processamento por qualquer adquirente. Armas de diferenciação foram perdidas, aumentando a sensação de que a diferença entre uma concorrente e outra é apenas o preço.

A solução? Crescer para os lados ao invés de cavar por mais share e perder cada vez mais margem no processo. A expansão da oferta de serviços e o esforço para inovar a forma como pagamos mostrou-se especialmente eficiente para preservar a indústria da forma como conhecemos.

Não é de hoje que as processadoras buscam diferenciação no meio digital. A aquisição pela Cielo da Braspag, maior gateway de pagamentos da América Latina, já em 2012 é um exemplo. A Rede fez movimento semelhante ao adquirir a Maxipago, e quase todos os outros players menores possuem alguma solução similar vinculada. O processamento de pagamentos é visto por alguns como commodity, e as adquirentes lutam para reverter essa visão com a oferta de serviços tecnológicos cada vez mais sofisticados.

Gestão de fraude, conciliação financeira, pagamentos inteligentes, big data, todas são iniciativas tomadas pelas processadoras para se diferenciar no meio digital. Os números do e-commerce são tímidos comparados aos montantes circulados no mundo físico, mas tomam cada vez mais protagonismo dentro de estratégias integradas entre loja, internet e aplicativo. Um bom exemplo é a Magazine Luiza, que viu seu valor de mercado subir mais de 3.000% nos últimos dois anos devido ao investimento em canais digitais.

Enquanto as vendas do varejo físico cresceram humildes 2% em 2017 depois de dois anos de queda, como aponta o IBGE, o e-commerce cresceu mais de 10% no acumulado dos últimos três anos. A corrida pelo share no meio digital é talvez ainda mais acirrada do que no mundo físico, visto que a maioria das vendas estão concentradas nas empresas aéreas e em alguns poucos grandes varejistas como B2W, Wallmart, Carrefour e Cnova.

Oportunidades novas surgem o tempo todo, porém. Com a entrada de segmentos antes pouco adeptos ao uso de cartões no mercado eletrônico, a corrida pelo protagonismo da área muda a cada instante. Transporte rodoviário, seguros, educação, saúde, indústria; cada novo público que adere ao e-commerce muda a balança da concorrência. Um sem número de players e modelos de serviço diferentes lutam pelo primeiro lugar na mente e no coração dos gestores que ainda não conhecem muito bem sobre pagamentos.

É difícil imaginar que todo esse universo existe entre os instantes em que você passa seu cartão de crédito entre uma loja e outra, mas enquanto nós estivermos dispostos a abrir nossas carteiras, é certo que mais próspero e mais inovador será o ecossistema de pagamentos.

Afinal, seu pagamento vale mais do que só o valor das suas compras.

(*) – É formado em Relações Internacionais pelo IBMEC e ocupa o cargo de Especialista de Geração de Negócios da Braspag (www.braspag.com.br)