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Precisamos de uma geração forte

em Opinião
segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Benedicto Ismael Camargo Dutra (*)

As incoerências do sistema monetário global são bem conhecidas pelos economistas do Brasil.

No entanto, as políticas adotadas sempre foram à contramão: dólar barato, juros elevados, estímulo para importar e produzir no exterior, continuado endividamento em moeda externa, venda maciça de swap cambial para manter o preço do dólar num mercado que quer sangue, nenhuma estratégia de longo prazo para reduzir a dependência, ministério da educação no abandono.

Com tantas mentes brilhantes, o Brasil não está conseguindo se levantar do mar de lama para o qual foi empurrado. No meio, a população espremida e assustada, sem saber qual será o futuro. No século passado, a dominância na economia brasileira se constituía de poucos empregos, salários baixos em relação à Europa e América do Norte, produção restrita, preços elevados, mercado fechado com válvula de ingresso na zona de Manaus.

Mudança do poder em 1964, esboço desenvolvimentista, crise da dívida externa, inflação. Nessa turbulência, a indústria, que já não era robusta, acabou perdendo espaço para a concorrência externa fortalecida pelo dólar barato, pela falta de infraestrutura – e principalmente de transporte a custo suportável -, estagnação no preparo da mão de obra e apagão mental.

A tentativa de favorecer o consumo de uma população carente acabou trazendo aumento de problemas, pois a produção interna não estava em condições de dar atendimento, o que gerou aumento das importações. Associado à falta de competência e ao avanço da corrupção isso criou as mais adversas condições que o Brasil e sua população têm de superar agora para sair da condição de colônia com objetivos próprios.

Parece que é chegada a hora de usar de bom senso reduzindo um pouco a taxa de juros Selic, e aplicar o montante em melhorias que gerem atividade e empregos sem acarretar perdas na balança comercial. A meta de reduzir a dependência de moeda externa nunca foi incluída como prioridade nos planos de longo prazo, perenizando a fragilidade e a falta de autonomia. Uma situação complexa das paridades cambiais que favorecem ações prejudiciais. Falta de ação do World Bank e FMI para propor caminhos salutares para a paz e o progresso com equidade entre os povos. Ingenuidade, burrice ou o que, no caso de querer confrontar o mercado especulativo com enorme liquidez para sustentar o dólar?

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) alerta que, no mundo, 43% dos jovens estão desempregados ou contam com trabalhos que pagam menos do que seria suficiente para mantê-los fora da linha da pobreza. A desocupação dos jovens é uma questão muito séria, pois eles ficam vacilantes para definir metas e planejar o próprio futuro. No Brasil, a situação se agrava pelo despreparo e baixa capacitação para a leitura. Enfrentamos o apagão mental.

O mundo precisa de uma geração forte que pense com clareza, com bom senso, sem medo do esforço e do trabalho e que possa confiar no empenho dos governantes e das empresas na busca de um futuro melhor. Na ausência disso sobrevêm o desânimo e o desinteresse pela própria vida, o que fortalece potencialmente o consumo de drogas para preencher o vazio existencial.

Estamos adentrando na “Grande ruptura”, título de livro escrito por Paul Gilding, professor da Universidade de Cambridge, Inglaterra. A humanidade chegou ao limite do materialismo e um grande colapso se anuncia. Percebe-se isso na confusão e desorientação, nas crises econômicas, nas alterações do clima e nas depressões e ansiedades.
Falta a motivação essencial que só a compreensão do significado da vida pode oferecer para dirigir o querer a projetos enobrecedores que dignifiquem a espécie humana.

(*) – Graduado pela FEA/USP, realiza palestras sobre qualidade de vida. Coordena os sites (www.vidaeaprendizado.com.br) e (www.librawww.library.com.br). Autor de: Conversando com o homem sábio; Nola – o manuscrito que abalou o mundo; O segredo de Darwin; 2012…e depois?; e Desenvolvimento Humano ([email protected]).