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Por escolha ou exclusão

em Opinião
quinta-feira, 03 de agosto de 2017

Heródoto Barbeiro (*)

Educação gratuita da pré escola a universidade. Isto existe. É na Finlândia.

Um professor ganha o equivalente a R$16.000,00 e os cursos mais importantes são os de preparação de professores.

Eles saem das universidades capacitados a dar boas aulas, acompanhar o rendimento dos alunos e fazer aperfeiçoamento contínuo. Ensinam a pensar. Os alunos aprendem a aprender. Com isso o senso crítico e de cidadania é afiado e das escolas nascem empreendedores que mantém a economia do país saudável. O ensino, usando um jargão distante da nossa realidade, é de qualidade.

O que parece um diferencial competitivo na verdade é o mínimo que um sistema educacional pode devolver para a sociedade que mantém toda a sua estrutura com seus impostos. O alvo é uma sociedade mais pacífica, igualitária e criativa. Durante muito tempo em outros países a arte de dar boas aulas era restrita a uma faculdade de educação. Os alunos completavam o bacharelado em uma determinada disciplina e depois a licenciatura na faculdade de educação.

Ao invés de aprender a técnica da comunicação, didática, e outros recursos para prender a atenção dos alunos, discutem métodos de aprendizagem que começaram com Rousseau e chegam aos dias atuais. De posse de um diploma, que habilita o universitário a dar aula, qual é sua capacidade de ganhar os alunos, de fazer com que seus olhos brilhem diante do conhecimento? Este é o segundo passo para um ensino de qualidade.

O primeiro é conhecer a disciplina que vai ensinar e ser capaz de traduzir o teórico que aprendeu na universidade em aulas que os alunos sejam capazes de entender sem dormir, jogar spin ou olhar o celular. Quantas aulas de liderança o professor teve? Provavelmente nenhuma. Nenhum curso de dicção. Nenhum treino de manipulação de material didático. Então como transmitir com essas deficiência o ensinamento de uma geração para outra ?

A universidade forma químicos, mas não professores de química, forma matemáticos, mas não professores de matemática. Uma boa parte dos que dão aula em outros países não são professores por escolha. Dar aulas, geralmente, é uma escolha por exclusão. Muitas vezes, um bico, até que surja uma possibilidade melhor remunerada, com reconhecimento da sociedade e que não exija tantas horas de preparação e correção de trabalhos.

Não é possível jogar nas costas do professor a responsabilidade pela ausência de ensino de qualidade. A geração dos babies boomers foi para boas escolas primárias, secundárias e universitárias. Têm saudade da escola e dos professores. Eles sabiam a disciplina, sabiam dar aula, eram respeitados pela sociedade. Receber um bilhete da escola por mau comportamento fazia a casa do estudante cair. Contudo não se pode melhorar um pais olhando para o retrovisor.

Uma das saídas é a universidade, pública ou privada, habilitar praticamente os que desejam ser professores. Nem todos querem a profissão, preferem a pesquisa ou o trabalho especializado. Mas os que se decidirem pelo magistério não podem chegar na frente de uma classe de alunos com as pernas bambas e a voz embargada. Ninguém merece isso nem por que optou pela profissão nem por ideal.

(*) – Âncora do Jornal da Record News e agora professor honoris causa da ESPM.