Heródoto Barbeiro (*)
Sob o ponto de vista do século 19 ser um país sem saída para o mar era uma catástrofe. Toda a economia trafegava pelo mar desde a passagem da idade média para a moderna.
O Mar Mediterrâneo foi um eixo econômico importante durante os séculos 14 e 15. Só perdeu a preponderância comercial quando os países ibéricos lideraram as navegações no Atlântico e o eixo econômico se deslocou do mar para o oceano. Toda a riqueza do planeta circulava pelos oceanos e ganhou um grande impulso com os navios movidos por máquinas a vapor.
Vapor virou sinônimo de navio.
Por isso as grande potencias se estruturavam geo politicamente fincando bases e colônias nos pontos considerados estratégicos para as rotas de comércio e desenvolveram poderosas esquadras para defender seus interesses e ameaçar as nações mais frágeis. Não era agradável ter uma frota nos portos da cidade com os canhões de grosso calibre dispostos a disparar. Calcutá, Hong Kong, Tóquio e Rio de Janeiro sabem bem o que significa ser ameaçado por uma esquadra de navios de guerra. Portanto sem saída para o mar não tinha saída para o crescimento.
O termo mediterrâneo também se aplica a um ‘país que não tinha acesso ao mar’. Na América do Sul o caso mais emblemático é o Paraguai. Espremido entre vizinhos que tinham acesso ao Atlântico ou ao Pacífico. A ele não sobrava outra alternativa para se encaixar no fluxo comercial se não utilizar os rios que dão acesso ao Atlântico, porém que corriam em territórios de outras nações. A geo política da época recomentava obter uma saída para o mar e para isso era necessário preparar uma força militar capaz de empurrar as fronteiras até a praia mais próxima.
Sob essa doutrina o governo paraguaio, liderado pelo Marechal Lopes, estruturou um aparato militar capaz de impor aos vizinhos a política de ‘romper com o mediterranismo do Paraguai’. Houve resistência e se seguiu a Guerra da Tríplice Aliança. Ela só terminou em 1870 com o Paraguai arrasado econômica e populacionalmente. O império do Brasil também entrou em profunda crise econômica pelo esforço da guerra e caiu diante de um golpe liderado pelos militares.
O que era uma desvantagem paraguaia hoje se torna uma vantagem competitiva. Está no coração do sul do continente sul americano, e, ou faz fronteira ou está muito próximo de todos os seus vizinhos. Graças ao atual crescimento econômico, que cavalga na atração de capitais e investidores, um sistema tributário amigável e relativa paz interna o Paraguai apresenta níveis de crescimento único na américa do Sul. Empresas brasileiras mudaram de mala e cuia para as terras guarani e exportam para … o Brasil.
Graças ao desenvolvimento rodoviário e aéreo mercadorias circulam com rapidez e chegam com preços competitivos no território dos vizinhos. A atual face do Paraguai joga por terra o estigma do “uísque paraguaio” ou o paraíso das muambas, tralhas, pirataria. É verdade que isso ainda existe na cidades livres das fronteiras, mas é preciso conhecer o coração do Paraguai, com exportação do agro negócio e produtos manufaturados.
O Paraguai destruiu o mito que país mediterrâneo está destinado ao subdesenvolvimento.
(*) É escritor e jornalista da RecordNews e R7.com