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O caminho do meio e o jornalismo

em Opinião
quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Heródoto Barbeiro (*)

O budismo é caracterizado por ser a religião do caminho do meio. Ele reúne uma série de comportamentos éticos que podem orientar pessoas que professam outras religiões.

Pode também sinalizar o melhor caminho para a sociedade e dentro dela as profissões. O jornalismo é uma delas, ainda que religião e a prática de informar não se confundam. Sabedoria e valor juntos proporcionam boas reportagens, para isso e preciso contar sempre consigo mesmo e a sua
inteligência. Reportagens devem ser feitas sem pressa e para isso o
jornalista precisa aprender a gerir o seu próprio tempo. É necessário não
esquecer que os fatos também têm o seu lado bom e precisam ser mostrados.

Isto tudo não impede que se aja com um grão de audácia em busca de histórias que possam contribuir para informar corretamente a sociedade e contribuir para a sua melhoria. Por isso não se pode deixar nada pela metade, assim a disposição é de fazer o difícil, fácil. E isso não é fácil. Escrever fácil é difícil. Ainda assim é um desafio diário que o jornalismo enfrenta no dia a dia e cujo objetivo é atingir, sensibilizar, encantar, incomodar o seu público.

Outro caminho ensinado pelo budismo é a busca constante do domínio da
paixão, do controle do ego. Muitas vezes este prega peças incríveis, cria
situações imaginárias, produz decisões apressadas e julgamentos sem qualquer base material. O equilíbrio e a sobriedade desaparecem. A reputação some e o público percebe que o jornalista perdeu a integridade.
Assim é importante saber escolher, e manter uma distância saudável dos extremos, sejam eles do bem ou do mal. O primeiro passo esse caminho é treinar para conhecer a si mesmo, um conselho tão antigo como Sócrates e o Buda, aliás contemporâneos, ainda que distantes um do outro em milhares de quilômetros. Essa disposição abre o caminho para a prática diária da humildade, e o reconhecimento dos erros cometidos.

Ela é uma das rédeas do ego, e ajuda a não se deixar levar levianamente sobre o que dizem os bajuladores de sempre. Estimula a escrever apenas o necessário para o desenvolvimento da reportagem, percebe o lado bom da história, e não se perde em longos parágrafos de egolatria ou informações que só atrapalham o público.

A meditação budista é uma prática diária que pode ser feita em casa, na
redação ou a caminho de uma reportagem.É o esteio de tudo. Ajuda a
controlar a ansiedade e colabora decisivamente para o dia de trabalho.
Impede que a mente crie expectativa que não vai poder cumprir e aponta
sempre para a moderação. Entende que o seu sucesso é o sucesso de todos e que ninguém faz jornalismo sozinho. É uma construção coletiva, ainda que, comumente, apareça apenas um nome ou um único rosto no vídeo.
Ensina a conviver com todos independente da maior ou menor simpatia de membros do grupo, e a dizer sim ou não apoiado no que julga justo. O budismo é também a prática da adaptação ás mudanças, ajuda a criar espírito crítico e a combater a ignorância, ou seja entender a situação como ela realmente é e não o que aparentemente demonstra. Estas práticas ajudam a escalar postos na carreira sem pisar nas costas dos outros ou detratar os concorrentes.

Enfim as práticas éticas do budismo cabem perfeitamente no conjunto ético que o jornalista escolhe para chamar de seu.

(*) É escritor e jornalista da RecordNews e R7.com