Mario Enzio (*)
O lado negativo tem o potencial de nos atrair, e até mesmo a notícia boa precisa ser desacreditada para servir de assunto numa roda de amigos.
Há uma pesquisa feita pela UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais, com base na análise de conteúdo de quase setenta mil manchetes produzidas em quatro veículos online, durante um período de oito meses consecutivos em 2014, que comprovam que mais de 70% das notícias que recebemos nos meios de comunicação estão relacionadas a fatos que geram sentimentos negativos, como catástrofes, doenças, crimes e crises.
Uma notícia gera um sentimento, uma emoção, que está ligado a uma visão que temos da realidade naquele momento. Se a pessoa está desempregada e escuta uma notícia de que o índice de desocupados aumentou poderá reagir de duas maneiras: aceitando que a sua força de trabalho continuará dentro das estatísticas ou não irá se importar com o que está nas manchetes dos jornais e acreditará que aquele assunto não lhe atinge.
Temos uma mente reativa, da maioria das pessoas, o lado negativo tem uma força que os motiva. Acompanhe uma história de artistas de domingo à tarde na televisão, haverá um momento recordação que irá trazer as noticias das dificuldades enfrentadas, das mazelas vividas, e irão contar de fatos sobre pessoas que lhes fizeram mal ou abusaram de suas boas intenções. E há uma esperada redenção imposta entre a notícia ruim, a manchete negativa, e o fato de que agora, agora, tudo é ou vai ser diferente.
Você não vê os paparazzi – os caçadores de fotos de artistas – irem atrás dos melhores ângulos. São postados quaisquer ângulos. A foto que se conseguir que consiga invadir mais a privacidade, que seja a mais escandalosa é a que terá mais cliques e que terá mais visualizações. A sedução pelo negativo é uma necessidade compulsiva.
Vem na mente de uma pessoa que escreve ou edita uma revista, um jornal, até diria que escreve um livro de ficar pensando que título, que manchete, irei colocar na capa que chame mais atenção? O que é notícia? O que pode deixar o leitor curioso a ponto de ler e comprar o veículo, jornal, revista, livro? Seria uma manchete de destaque do dia. O que de pior ocorreu?
Teve incêndio? Desgraça? Assassinato, não? Nosso veículo não divulga questões policiais. Coisas de pessoas excêntricas, não? Isso fica com as revistas de fuxicos, fofocas e invasões de privacidade ou intimidade. Algo que seja diferente? Puxa! Hoje está difícil. Nada de coisas diversas que possam causar impacto. E notícia boa? Não?
Cabe ressaltar que mesmo sendo uma notícia boa, positiva, há uma tendência de que os comentários sejam ainda assim negativos, por exemplo, saí na manchete: “A poluição no Rio Tiete diminuiu em vários trechos do seu curso”. Alguém dirá: “Manipularam os dados”; “devem ter pego uma amostra de um copo de água filtrada”; “podem acreditar que logo estará poluído novamente”.
(*) – Escritor, Mestre em Direitos Humanos e Doutorando em Direito e Ciências Sociais. Site: (www.marioenzio.com.br).