Benedicto Ismael Camargo Dutra (*)
No embate da guerra comercial mundial, se a China ameaçar sair dos títulos americanos, os juros tenderão a subir como tentativa para compensar a perda
Mas isso vai elevar o percentual do gasto com juros sobre o PIB americano e por certo causará uma complicação em muitos países como o Brasil, dependentes de dólares. A tragédia brasileira é complexa. Faltam estadistas sérios que busquem o progresso real. As empresas abusam quando podem, sempre usando a fórmula na qual conseguem tirar mais dinheiro do consumidor pelo mesmo produto.
A luta pela conquista do poder tem acarretado o oposto do que se espera das classes política e econômica para assegurar o bem geral. O descalabro atinge as contas públicas. Improbidade institucionalizada. A prática da comissão do comprador se tornou usual; mas comprar o que não será usado, o que já está obsoleto, o que não vai ser utilizado no prazo de validade, tem outro nome muito feio; é um duplo crime, mas são fatos que ocorrem frequentemente na administração pública.
Quando o mercado permite abusos, abre-se espaço aos populistas despreparados e desatentos. Cai a arrecadação. Sobe o dólar, aumentam os juros. Persistem gastos duvidosos do poder público. Aumenta a dívida, desemprego e miséria. A indústria insípida perde espaço diante dos importados com preços inferiores aos custos de produção. O país fica patinando, ninguém abre mão de seus privilégios.
Os especialistas já haviam alertado para as consequências no descuido das contas e para os efeitos dos juros compostos. Não foram ouvidos; a irresponsabilidade e a má fé dominaram. Em menor ou maior prazo, dependendo da taxa de juros, a dívida vai se multiplicando. A dívida mundial pública e privada já alcança 223% do PIB. Com esse elevado nível de endividamento, importa saber quanto disso está comprometido com bolhas de superavaliação, em vez de estar circulando na economia real.
Com a tendência desse número se elevar, aumenta o risco de crise, pois numa baixa não haveria lastro para resgate dos empréstimos, os Estados também teriam dificuldades para renegociar as dívidas e tudo seria arrastado ao caos. Há muita capacidade produtiva ociosa e comprometimento dos recursos naturais dos países, complicando o resgate das dívidas. Então a ordem é cortar gastos e precarizar. Os números da economia mundial estão apresentando alguma melhora, mas encobrem o aumento da miséria decorrente da perda de empregos em geral e de salários mais compatíveis.
São muitos fatores, todos eles com uma essência similar: o descuido do homem com o futuro. A cobiça pelo poder e vaidade têm direcionado o mundo para a decadência. Uma triste visão do Brasil, jogado às traças por seus gestores. Faltam para a população: propósitos enobrecedores, educação e disciplina. Mal orientadas desde sempre, na alimentação, na higiene, na saúde, as pessoas viram que a desesperança e o relaxamento se fortaleceram com o mau comportamento da classe política formada na sua maioria por oportunistas e aproveitadores.
Há descuido com os rios, mananciais e a natureza em geral. Só 40% do esgoto recebe tratamento. Como resgatar o povo para uma forma digna de vida? O sonho dos tiranos, que agora surgem em profusão pelo mundo, nos Estados, nas organizações, nas religiões e nas famílias, vai se desenhando no cenário da dominação; é o desejo de ter poder sem limites, sem qualquer contestação, inibindo os anseios para construir um mundo melhor por estarem presos à baixa cobiça, à vaidade, à ambição, ao domínio pela força, invertendo a ordem natural de elevação.
Não dá para protelar mais. Como recuperar o tempo perdido no avanço tecnológico e na produção? Ou encontramos um caminho para produzir mais, reduzir custos, acabar com privilégios, melhorar a educação e as condições de vida, ou caminharemos para os baixios das nações sem capacidade para se reerguer, que deixam os seus recursos naturais disponíveis para que estes contribuam para a melhora das condições de vida de outros países.
(*) – Graduado pela FEA/USP, coordena os sites (www.library.com.br) e (www.vidaeaprendizado.com.br). É autor dos livros: Nola – o manuscrito que abalou o mundo; 2012…e depois?; Desenvolvimento Humano; O Homem Sábio e os Jovens; A trajetória do ser humano na Terra – em busca da verdade e da felicidade; e O segredo de Darwin – Uma aventura em busca da origem da vida. E-mail: ([email protected])