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Mar de lama

em Opinião
quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Benedicto Ismael Camargo Dutra (*)

Tragédias como a do rompimento das barragens próximas à cidade de Mariana, em Minas Gerais, que estarreceu o mundo civilizado, não podem continuar ocorrendo se quisermos que o Brasil seja considerado um país em busca do progresso.

Por que acontecem acidentes desse tipo que comprometem a natureza e provocam crise social? É mais provável que seja devido ao emburrecimento e à falta de clareza no pensar, enfim, ao retrocesso em marcha acelerada da capacidade cognitiva e investigativa que todo ser humano foi dotado, mas que está perdendo por falta de utilização correta. Segundo o físico e filósofo francês Blaise Pascal (1623-1662), o ser humano deve pensar bem porque aí está o princípio da moralidade.

Todos nós pensamos com o cérebro – um órgão sem igual, mas que infelizmente nem sempre é utilizado em toda a sua capacidade. Precisamos de bom senso, de simplicidade, naturalidade e clareza, dando importância à intuição para sermos flexíveis; essas práticas minimizarão o apagão mental. O negativismo é forte. É preciso fazer uso de energia para interromper o ciclo da indolência, parar de reclamar, ser responsável, estabelecer objetivos e ir em frente. Os pensamentos das novas gerações precisam ser alimentados com projetos enobrecedores. Muito importante é conservar puro o foco dos pensamentos.

Uma economia com respeito ao humano e à natureza era uma ideia que começava a ser bem aceita nos anos 1970, mas vieram as crises provocadas pela ganância. Com a globalização financeira, muitos estudos humanistas foram postos de lado, a economia se foi desumanizando, o foco prioritário se voltou para o poder do dinheiro. A economia como tudo o mais teria um desenvolvimento correto se a humanidade se pautasse observando o funcionamento das leis naturais da Criação. Agora as fragilidades e incoerências aparecem.

O que significa o impactante mar de lama que desabou em Minas Gerais? Sina dos países subdesenvolvidos, fornecedores de matérias-primas? Só se pensa em números e se esquece das consequências das decisões imediatistas que não levam em conta o aspecto humano e a natureza. Falta de sinceridade e bons propósitos para com o país e sua população.

Durante todo o século 20, apesar dos recursos naturais de que dispõe, o Brasil não conseguiu se libertar das travas que o mantém atrasado. Faltou seriedade e sabedoria. O Brasil precisa do esforço de todos nós para sair do subdesenvolvimento e promover a melhora da qualidade humana e de vida.

Não podemos confundir desigualdade com o cerceamento de oportunidades. Somos desiguais por natureza. Errado é não se movimentar, não se esforçar para realizar os projetos próprios, assim como é errado condicionar os indivíduos a uma incorreta visão da vida, acomodando-os ainda mais com a falta de instrução, e com pão e circo, embrutecendo-os. Sem o movimento próprio, sem oportunidades para se educar e evoluir, surge a desigualdade das condições de vida que se tornam hostis e adversas, fazendo a humanidade decair.

Há uma crise de confiabilidade nas autoridades, nas leis e nos poderes público e privado. De tanto ver as astuciosas manobras para ganho pessoal e aumento de poder, as pessoas acabaram descrentes de tudo. A vida espiritual da sociedade tende a zero, nada mais é sagrado.

A indolência e a falta de propósitos estão arrastando as novas gerações para uma forma de vida vazia, aumentando o mercado das drogas.

(*) – Graduado pela FEA/USP, realiza palestras sobre qualidade de vida. Coordena os sites (www.vidaeaprendizado.com.br) e (www.libra ry.com.br). Autor de: Conversando com o homem sábio; Nola – o manuscrito que abalou o mundo; O segredo de Darwin; 2012…e depois?; Desenvolvimento Humano; e O Homem Sábio e os Jovens ([email protected]).