Ornella Nitardi (*)
Ampliar o ecossistema de inovação para outros países, outros continentes, é um movimento que vem ganhando força, apesar dos desafios para empresas de mercados emergentes, como o brasileiro.
Para além da busca por investimentos estrangeiros, as startups podem ser internacionalizadas, ou seja, podem exportar suas inovações, superando questões como as barreiras institucionais e de capacidades necessárias para a transformação digital. A colaboração em inovação aberta entre o Brasil e outros países é uma oportunidade estratégica para o desenvolvimento e a competitividade: além de fortalecer a posição do País no cenário global de inovação e impulsionar o crescimento econômico, traz oportunidades promissoras para o desenvolvimento científico, tecnológico e social.
Com esse olhar, trouxemos vários insights do encontro Brazil Innovation Day, que apresentou oportunidades de colaboração e inovação entre os ecossistemas de startups da Alemanha e do Brasil. Essa dinâmica foi organizada pela embaixada do Brasil na Alemanha como parte da II Reunião de Consultas Intergovernamentais de Alto Nível Brasil-Alemanha, aconteceu em dezembro de 2023 em Berlim. Participei, com outros representantes de ambos os países, do painel sobre a construção de pontes entre os ecossistemas de startups, que explorou oportunidades de colaboração e estratégias para superar diferenças culturais e regulatórias e favorecer avanços em áreas como transição verde, bioeconomia, indústria 4.0, Inteligência Artificial (IA) e intercâmbio de talentos.
Foi interessante expor as sinergias entre os ecossistemas a partir da visão de organizações que os representam como a Associação Brasileira de Startups, a Associação Alemã de Startups e o órgão representante das startups no ministério alemão de economia e clima. Um dos pontos destacados foi mostrar como a cultura diversa e resiliente que caracteriza o empreendedor brasileiro pode se complementar com essa troca com Alemanha gerando relacionamentos transfronteiriços duradouros e com resultados de negócio concretos. Nesse sentido, além do papel chave das organizações que representam o ecossistema, também se destacou o papel do setor privado como catalizador desta internacionalização, abrindo as fronteiras para identificar as melhores soluções para os desafios existentes e como podem ser um canal de internacionalização. E ainda a necessidade de complementariedade entre estes agentes para ir além de testes “isolados” e criar relacionamentos duradouros.
Entre os temas em que isso se mostrou possível – e desejável – foram a IA e a transição verde. Como em inovação aberta enxergamos desafios como oportunidades, o Brasil ganha destaque nesse cenário por ter matriz energética diversificada, sendo 69% proveniente de fontes renováveis. Além disso, o País tem 60% das startups latino-americanas com potencial para liderar em energia verde, bioeconomia e novos materiais, de acordo com a informação trazida pela embaixada brasileira durante o encontro. No encontro reforçaram que as startups alemãs estão abrindo novos horizontes na transformação energética, e o venture capital cresceu, apesar da crise, o que mostra resiliência do ecossistema.
Além de avanços em discussões importantes e tantas oportunidades no horizonte, foi um ótimo momento para o networking, tanto com instituições brasileiras, quanto com as entidades alemãs, como a German Accelerator e o Ministério Federal de Educação e Pesquisa da Alemanha para a América Latina (BMBF). Ao longo deste ano, teremos o B20 Brasil, que conecta a comunidade empresarial aos governos do G20, grupo que reúne as maiores economias do mundo. Novos desafios deverão estar na pauta – e consequentemente abrindo oportunidades para a inovação aberta. Por aqui estaremos atentos, entusiasmados por novas conexões e engajados para aprofundar essa agenda tão necessária para transformar os negócios. Vamos nessa?
(*) Head de Inovação Aberta e Ecossistemas Digitais para América do Sul da BASF e responsável pelo onono® Centro de Experiências Científicas e Digitais.