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Gestão já não é mais mera questão de bom senso

em Opinião
terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Luiz Muniz (*)

Gosto muito de uma frase do filósofo francês René Descartes (1596 – 1650): “O recurso mais bem distribuído no mundo é o bom senso: Todo mundo acha que já possui o suficiente”.

Na época que essa frase foi dita, a humanidade iniciava a busca por novos conhecimentos para compensar a defasagem dos avanços sociais e intelectuais da idade média. Iniciava-se a busca por algum mecanismo, ou método, que permitisse desenvolver o conhecimento em várias frentes a fim de acelerar a evolução da humanidade.

O conhecimento, como sabemos, foi dividido em especialidades. Descobriu-se que tratar o conhecimento por especialidades, além de mais fácil, garantiria mais capacidade de análise e resultados muito mais efetivos.
Importantes avanços na engenharia, medicina e a economia conquistados e foram as alavancas mestras para as primeiras revoluções sociais e industriais que o mundo viveu.

Curioso é saber que tudo isso foi gerado do senso comum. Por exemplo, quando imaginamos alguém doente, não é necessário nenhum método muito avançado para sabermos de que é necessário um médico. Isso é senso comum. Senso comum é aquilo que mesmo sem um estudo muito aprofundado, nos conduz a uma conclusão que pode ser mais ou menos assertiva e por isso nos conduz a um resultado mais ou menos adequado. É o exemplo de que quando estamos doentes: precisamos de um médico, mas não necessariamente qual médico precisamos.

Senso comum é aquele conhecimento caracterizado pela falta de método e análise e que nos conduz a um resultado menos preciso. Por exemplo: não é necessário um método preciso para se fazer arroz. Se o fogo ficar um pouco mais baixo ou alto, não tem problema. O arroz não precisa atender a uma norma internacional de cozimento para ser consumido. Na média, ele vai ficar bom. Se ficar ruim, fazemos de novo.

Já no caso de alguém que acabou de dar entrada no pronto socorro de um hospital, com os sinais vitais instáveis, é fundamental ter alguém que conheça em profundidade como prosseguir com o tratamento. Não dá para “fazer outro paciente” em caso de erro. É necessário, portanto conhecimento científico. É necessário método.

Agora vamos imaginar uma empresa que está passando por dificuldades financeiras. Não é uma situação tão grave quanto a um paciente que está entre a vida e a morte, mas também não é uma situação igual a fazer arroz. Não é tão simples e rápido fazer outra empresa se a atual não der certo.É necessário, assim como o do paciente no hospital, que o tratamento da empresa seja conduzido por pessoas que tenham conhecimento em como fazer as empresas voltarem a serem saudáveis.

É necessário ter conhecimento em um método capaz de melhorar a rentabilidade da empresa e a motivação dos funcionários. Em suma, é necessário ter profundo conhecimento em um método de gestão. Assim como se tratar um paciente, para que as ações de melhoria da empresa sejam definidas e implantadas, deve-se saber identificar qual a doença, quais suas características, como trata-las e também como evita-las.

Por exemplo: uma “doença” muito comum em épocas de crise é a queda no faturamento das empresas. Antes de “medicar” a empresa e “sair fazendo” as coisas com excesso de ansiedade, é necessário saber o quanto esse faturamento está baixo; em qual região; e com qual produto. A causa está no excesso de descontos, no baixo volume, ou no elevado custo de produção? Por quais motivos? As ações definidas vão causar outro dano nos resultados? Quanto e aonde? Como monitorar a evolução do indicador?

Essas perguntas, mas também e principalmente suas respostas, são fruto de um método conhecido como PDCA (Plan, Do, Check e Act) que significa planejar, executar, verificar e atuar. Esse método científico consagrado, utilizado pelas maiores e melhores empresas do mundo, faz com que as ações definidas para retomar os patamares de faturamento sejam muito mais assertivas e, caso não o sejam em sua plenitude, seguramente fará os resultados melhorarem significativamente em uma velocidade muito maior caso as ações fossem conduzidas sob a luz do senso comum, reduzindo perda de tempo e retrabalho.

Isso significa que o PDCA também evita e reduz gastos desnecessários. Se o intuito for realmente de salvar ou melhorar a saúde de uma empresa, há que se recorrer a um conhecimento específico no método. Realizar o diagnóstico e tratar a enfermidade. Não é demérito.

Por mais que nosso bom senso nos conduza a resultados mais práticos e menos precisos, uma empresa não pode ser gerida com o mesmo rigor no qual se faz arroz.

(*) – Mestre em estratégia de operações e especialista em empresas familiares, é diretor da Telos Resultados, atuando como consultor de empresas em Modelos de Gestão ([email protected]).