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Ética, a disciplina da família

em Opinião
quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Oriovisto Guimarães (*)

A ética é o estudo da ação humana, do ponto de vista do bem e do mal que possa produzir.

Diante dos fatos do cotidiano, que testemunhamos e dos quais também somos protagonistas, podemos criar novos valores ou manter os que já existem na sociedade. Os filósofos da Grécia Antiga entenderam como poucos o significado mais profundo da ética. Na famosa obra “A República”, Platão narra a história de Giges, que encontra um anel mágico.

Giges nota que a joia tem o poder de torná-lo invisível aos deuses e aos homens. Com esse poder, ele seduz a rainha, mata o rei e inicia sua própria dinastia. O que Platão propõe é que cada um de nós imagine ter esse poder de invisibilidade, para escapar ao julgamento de Deus e da Justiça. O filósofo indaga com essa parábola mitológica: o que nós faríamos tendo em mãos um poder acima de qualquer outro?

Aristóteles, outro grande filósofo grego, dizia que as virtudes podem ser aprendidas. Ou seja, tudo o que pode ser ensinado às crianças, num sentido de comportamento ético, é de extrema importância. Mas até onde vai a família no ensino da ética? E qual a missão da escola? E como se relacionam esses dois pilares da sociedade? O professor não é pai e o aluno não é filho. São dois papéis distintos em nossa organização social. Um pai teria de ser especialista em várias disciplinas, além de dispor de período integral para ser professor do filho.

O papel fundamental da escola é transmitir conhecimentos acumulados por gerações anteriores e que são cruciais para a vida atual. Já para a formação ética e moral, o papel da família é mais importante que o da escola. O exemplo dos pais vale mais que toda conversa sobre ética. De que adianta um pai dizer ao filho para respeitar a lei, se o próprio pai é pego pelo guarda em alta velocidade e, diante dos olhos da criança, tira cem reais do bolso para se livrar da multa?

Com a ética, não existe meia verdade. Ou você fala a verdade ou mente. Não dá para respeitar apenas quando a polícia está olhando. Outro exemplo: como uma escola dará aula para um menino que não respeita o professor e cujos pais o apoiam nessa atitude, pela omissão ou incentivo?

Por isso, a formação ética e moral é preponderantemente função da família. Ter filhos exige responsabilidade muito maior. É importante conversar com essa criança, ficar com ela nos finais de semana, brincar. Até na brincadeira é preciso ensiná-la a respeitar regras. Se você trapacear num joguinho simples, ela pode adotar a trapaça como valor. É da natureza das crianças dar o devido retorno aos estímulos que recebem.

Uma poesia da educadora argentina Eugênia Puebla é, para mim, a síntese do que é educar com ética. Na “Mensagem à Família”, Eugênia faz uma defesa apaixonada pela temperança com que os pais devem acompanhar o crescimento dos filhos. Num trecho do poema, ela diz que todo “exagero é negativo”. Os pais devem ajudar os filhos em seus desafios de vida, mas jamais substituí-los.

Para Eugênia, um jovem conectado com o mundo, pela influência educacional dos pais, terá as referências mais fortes para saber reagir às situações de vida. “E, finalmente, quando a gaiola do canário se quebrar, não compre outra… Ensina-lhe a viver sem portas.”

É a aposta final que a educadora expõe para lapidar o cidadão consciente de seus direitos e deveres.

(*) – É professor, empresário e um dos fundadores do Grupo Positivo.