Mario Enzio (*)
Não espere para mudar o quadro geral, pode começar pelo canteiro da sua casa. Ou seja: faça o que for preciso para mudar, mas comece pela sua cidade.
Quando viajo e analiso as dimensões do Brasil, vejo como é um país com vários países. Cheio de singularidades e particularidades. Esses regionalismos, as várias faces culturais, os costumes, a verbalização e sotaques. Em 2013, tínhamos 5.570 municípios. Se você é daqueles que gosta de viajar de carro, parando em cada cidade, irá encontrar curiosidades que irão lhe surpreender.
Se começasse a contar o que tenho descoberto essa coluna estaria em outra seção desse jornal. Quem sabe nas dicas de turismo. O que quero abordar é a força cidadã que existe a partir de todas essas cidades do interior. O que seria essa força? O que pode ser mudado, a partir de células menores, para se influenciar no todo.
Geralmente, em uma cidade pequena conhecemos as pessoas com certa intimidade. Sabemos de suas preferências, de seus negócios, mazelas, amores, até amantes. Numa cidade ou vizinhas numa região conseguem-se informações precisas sobre pré-candidatos, políticos de carreira, outras pessoas do povo que querem nos representar. Quando dizemos que acreditamos em nosso candidato, pelo menos, é o que se esperamos: que sendo conhecido, seria qualificado e comprometido com a causa pública. Mas, é sabido que não é bem essa situação que acontece. Algo o transforma. Onde está o erro? Seriam as bases?
Quando olhamos para uma Câmara formada, com seus 513 representantes, vemos o reflexo instalado dessas escolhas. E isso não fica só nessa casa. Nas casas legislativas dos Estados, onde cada Estado possui de 24 a 94 deputados. São 1059 em todo país, sendo que quase 1/3 desses não cursou uma faculdade. E nas Câmaras Municipais são 56. 810 vereadores. Chega-se ao contingente de 58.382 pessoas que legislam para 207 milhões de brasileiros. De onde eles vêm? Dessas cidades maravilhosas, municípios encantadores, desses rincões nos mais de oito milhões de quilômetros quadrados.
Penso: estaria o erro nessa base de seleção e escolhas? Quem é o sujeito que irá me representar? Não é porque ele ou ela é bom de papo e pode oferecer alguma vantagem imediata que deveríamos dar-lhes créditos. Uma representação política é como comparo com essa imagem: de dar um talão de cheques a um desconhecido, para que use do jeito que quiser com sua assinatura, para fazer coisas que preciso no meu quintal, e que possa regular tudo que esteja relacionado com minha vida na comunidade.
Se ele usar em pagamentos além do limite, terei que bancar o saldo devedor. Então, entregaria seu poder de cidadão a alguém que não conhece? Quando elegemos um vereador, deputado, prefeito, governador estamos delegando poderes para legislar e administrar a coisa pública. Estamos cedendo parte do nosso poder de decisão. Entendo como básico: se quero mudar irei conhecer ainda mais com quem irei deixar esse talão.
(*) É Escritor, Mestre em Direitos Humanos e Doutorando em Direito e Ciências Sociais (www.marioenzio.com.br).