Roberto Lima (*)
O Brasil se tornará um local mais atrativo para se investir na produção.
A imprensa e os meios de comunicação nos dias de hoje só têm espaço para notícias sobre a queda da economia, o fechamento de postos de trabalho, corrupção, “impeachment” ou não da presidente da República. Só se enxerga um túnel escuro sem término. Será que isso resume tudo o que acontece no Brasil de hoje?
Entendo que não. O Brasil está sofrendo uma mudança, que pelo jeito é para ficar, que trará muitas oportunidades para muitas empresas e empresários. Falo da nova realidade cambial. O dólar vem sendo cotado na faixa de R$ 3,80. Há um ano, estava a R$ 2,35 (o mesmo há dois anos), quando em período recente chegou a ser cotado em R$ 1,60. O que isso significa? Representa oportunidades para muitas empresas. O Brasil se tornará um local mais atrativo para se investir na produção.
Com o dólar pulando de R$ 2,35 para R$ 3,80, os produtos importados se tornam 60% mais caros. Dessa forma, fica muito menos atrativo importar produtos que fabricar aqui no Brasil. Muitas empresas industriais brasileiras em período recente (últimos quinze anos) transferiram parte expressiva de sua fabricação para a China (calçados, confecções, cerâmica, produtos plásticos de consumo, para citar algumas). O varejo, por outro lado, muitas vezes também procurou desenvolver fontes de suprimento externas aproveitando o alto valor do real, a baixa produtividade e o custo da mão de obra no Brasil (vamos falar do custo da mão de obra adiante).
Com os importados 60% mais caros, vejo que muitas empresas vão voltar a internalizar sua produção enquanto os varejistas vão reativar sua busca por fornecedores nacionais. Isso representa uma enorme oportunidade para as empresas manufatureiras sediadas no Brasil. Com maior oportunidade de vendas vai valer a pena investir, o que significará também aumento de produtividade! Bom, não?
Outra oportunidade: a nova realidade cambial significa que o produto brasileiro está 40% mais barato em dólar. Ora, isso é uma enorme vantagem (ainda que se mantenham outros fatores do custo Brasil). Muitas empresas industriais brasileiras, tradicionalmente exportadoras (calçados, cerâmica, veículos, para citar algumas), praticamente se ausentaram do mercado externo ou reduziram expressivamente suas exportações nos últimos dez anos (em grande parte porque a explosão de exportações das commodities apreciou muito o real).
Agora com o produto podendo ser apreciado em até 40% ou pelo menos tendo seu preço reduzido para o comprador lá fora, muitas dessas empresas vão retomar seus programas de exportação. Conheço boas empresas industriais brasileiras que há quinze anos exportavam de 30 a 40% de sua produção. Após a valorização do real, passaram a exportar menos de 5% de sua produção e muitas vezes somente aqui no Mercosul. Com este novo dólar vão retomar seus programas de exportação. Novamente, isso significa, aumento de produção, investimento, melhoria de qualidade, emprego.
Por último, mas não menos importante: estamos assistindo a um aumento no desemprego principalmente nas indústrias automobilísticas, de construção civil e na indústria ligada ao petróleo. Acredito que aqui também teremos um fator que vai contribuir para um ajuste necessário na nossa economia. Tivemos um período recente de muitos aumentos salariais sem a contrapartida de aumento de produtividade. Esse movimento de aumento no desemprego vai ser positivo em médio prazo. Vai trazer o custo salarial a patamares mais realistas.
Por outro lado, a expansão nas indústrias que vai fazer a substituição das importações e daquelas que vão ampliar suas exportações vai absorver parte deste contingente que está sendo desempregado no momento. Em resumo, este novo patamar cambial vai forjar um novo Brasil. Mais manufatureiro, mais exportador de valor agregado e mais consumidor do produto brasileiro.
(*) – É professor de Finanças da Fundação Vanzolini.