Ubiratan Resende (*)
A tecnologia de reconhecimento facial tem sido alvo de muitas contestações.
Usada para a preservação de espécies – permitindo que ambientalistas e biólogos acompanhem indivíduos de espécies em extinção –, para fazer entregas, localizar crianças desaparecidas, a tecnologia de reconhecimento facial ganha as mais diversas aplicações.
Apesar de haver estudos no Reino Unido de que registram muitas falhas – como recente pesquisa divulgada pelo jornal The Independent, que apontava erros em 95% dos reconhecimentos realizados –, os sistemas produzidos na Ásia chegam a um grau de precisão que possibilita seu uso até para a criação de porcos, animais que, mesmo para seus donos, dificilmente podem ser diferenciados por traços e feições.
Por razões óbvias, apesar de suas possibilidades infinitas, a tecnologia ganha espaço no Brasil com aplicações voltadas à segurança. Edifícios comerciais, hotéis e restaurantes estão entre os que mais recorrem ao reconhecimento facial. Entre os sistemas já disponibilizados no mercado brasileiro, alguns são capazes de reconhecer indivíduos mesmo em meio a multidões.
Caso as câmeras filmem alguém que tenha o hábito de permanecer próximo ao local observando o movimento dos frequentados ou pessoas que já tenham tido sua entrada recusada, antes mesmo que qualquer segurança dê conta, a tecnologia alerta sobre a presença dos indivíduos. As soluções chegam a identificar expressões como raiva e transtorno e, se customizadas para tal, avisam e mostram a localização da pessoa aos gestores.
Da mesma forma que identifica pessoas indesejadas, os sistemas de reconhecimento facial liberam acessos para os que já estão cadastrados ou são conhecidos, dando passagem para os locais onde podem trafegar. Desta forma, colaboram para agilizar o trânsito de pessoas e reduzir aglomerações em áreas comuns.
Também por conta da segurança, os sistemas de monitoramento de frotas adotam o reconhecimento facial. Não é para menos. Conforme estudo da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), em 2016, houve 22.551 roubos de carga no país, um crescimento de 86% em cinco anos. Já a Agência Nacional de Transporte Rodoviário de Cargas e Logística aponta a ocorrência de mais de 24 mil casos no país em 2017.
Se as soluções voltadas ao segmento limitavam-se, até poucos anos atrás, ao fornecimento da geolocalização dos veículos, hoje há sistemas capazes de mostram tudo que acontece ao seu redor. Com câmeras dispostas dentro e fora dos caminhões, o reconhecimento facial identifica desde a expressão do motorista – em casos de sonolência, o sistema alerta os gestores – até a aproximação de pessoas suspeitas.
Alguns dos sistemas voltados para o monitoramento são dotados da tecnologia de diagnóstico de imagem. Desta forma, a partir de câmeras externas, alertam gestores sobre veículos que se mantêm próximos ao longo de vários quilômetros, que realizam aproximações bruscas ou até mesmo armas captadas pelas imagens. São variáveis que passariam desapercebidas pelo olho humano.
Por serem altamente customizáveis, essas soluções podem ser programadas para detectar o que a equipe de monitoramento considerar mais relevante para o tráfego em determinadas regiões ou para o transporte de diferentes tipos de cargas. A tecnologia de reconhecimento facial tem sido alvo de muitas contestações. Seja como for, hoje ela aumenta a segurança, favorece ações defensivas e propicia ganhos de produtividade.
(*) – É diretor-geral da VIA Technologies no Brasil.