Rodrigo Miranda (*)
O governo brasileiro anunciou recentemente um investimento de R$ 23 bilhões em inteligência artificial, englobando também a instalação de um supercomputador de ponta.
Não há dúvidas de que se trata de um momento importante para o avanço tecnológico do país, mas para que a iniciativa traga um impacto duradouro, é crucial que seja acompanhada de políticas que incentivem a inovação de forma ampla e acessível.
Uma das mudanças necessárias é a modernização da Lei do Bem, que concede incentivos fiscais às empresas que investem em pesquisa e desenvolvimento. A abrangência da legislação pode ser amplificada com as reformas propostas nos projetos de lei 2838 e 4944, que estão em tramitação no Congresso e eliminam a exigência de lucro no ano fiscal para o enquadramento. Sem este entrave, startups e empresas em crescimento também poderão aproveitar as oportunidades voltadas para a inovação.
Outra medida fundamental é que o setor privado e o público trabalhem juntos em um esforço coordenado. Empresas de tecnologia, universidades e instituições de pesquisa precisam estabelecer parcerias para utilizar os novos recursos de forma a não somente fomentar inovações tecnológicas, mas também gerar mais negócios e oportunidades de mercado. Isso criará um ciclo virtuoso de inovação que fortalecerá a economia nacional e colocará o Brasil em uma posição relevante no mapa da competividade.
O investimento em inteligência artificial também deve ser visto como parte de um ecossistema maior, que inclui infraestrutura, capital humano e um ambiente regulatório que favoreça o crescimento sustentável. Aliada a este tripé, as empresas necessitam ainda apostar na gestão estratégica da inovação para maximizar o potencial dos investimentos em IA. Para isso, é mais do que bem-vinda a introdução da norma ISO 56001.
Prevista para ser publicada em setembro de 2024, a norma, que estabelece requisitos para um sistema de gestão da inovação, pode fornecer o framework necessário para que as empresas alinhem suas estratégias com as melhores práticas internacionais. Com a ISO 56001, as organizações poderão estruturar processos de inovação mais eficazes, garantindo que novos produtos ou processos não sejam apenas uma iniciativa isolada, mas parte integrante de sua estratégia de negócios.
As empresas que adotarem a ISO 56001 estarão mais bem preparadas para identificar riscos e oportunidades, alocar recursos de forma eficiente e melhorar continuamente seus processos e resultados. Essa norma também tem um adicional importante: promove a cultura da inovação ao exigir comprometimento da liderança, o que é crucial para que a mentalidade de inovação permeie todos os níveis da organização.
Combinando, portanto, os incentivos adequados da Lei do Bem e práticas robustas de gestão da inovação com a ISO 56001, o país pode transformar os investimentos realizados em inteligência artificial em um motor de crescimento econômico e competitividade global. Essa abordagem integrada é essencial para garantir que o Brasil se torne um líder em inovação tecnológica nos próximos anos.
(*) CEO da G.A.C. Brasil e professor no curso de especialização em Gestão Estratégica da Inovação Tecnológica da UNICAMP.