Matheus Rocha (*)
Apesar da motivação, essa é uma proposta nova para ser avaliada se funcionará e se permanecerá.
Após um abrupto período de isolamento social com impactos e alterações no cotidiano, quais as mudanças que prevalecerão no pós-crise depois de tantas iniciativas digitais promovidas pela sociedade em função da pandemia? Partindo do âmbito da saúde, temos um problema de superlotação nos hospitais que foi agravado pela pandemia, principalmente os públicos.
Neste cenário, como cuidar das pessoas que precisam de atendimento médico sem expô-las aos riscos de contaminação e, mais, sem sobrecarregar o já saturado sistema de saúde? Em caráter de urgência, o Conselho Federal de Medicina percebeu que a resposta estava na adoção da Telemedicina, que permite o atendimento remoto feito por profissionais da medicina a partir do uso de softwares especializados.
Nesta onda veio a oportunidade: médicos já estão lançando seus consultórios virtuais e algumas operadoras de saúde iniciaram suas operações à distância para as pessoas não saírem de suas casas em decorrência do isolamento social e, também, para os atendimento de casos com Coronavírus. Apesar da motivação, essa é uma proposta nova para ser avaliada se funcionará e se permanecerá, mesmo após esta crise.
Agora que estamos falando de Telemedicina motivados pelo isolamento social, por que não ir além e imaginar o futuro? Tecnologias como Machine Learning, Data Lake e Inteligência Artificial processando informações disponíveis na internet e redes sociais, adicionando-as a um histórico de pacientes podem nos direcionar ao futuro. Saindo da medicina, quais outras profissões podem se transformar totalmente a partir da pandemia?
No ponto de vista das finanças, num surpreendente movimento de agilidade do Governo, um projeto de ajuda financeira emergencial de alta complexidade foi lançado em tempo recorde, movimento este que veio na esteira dos bancos digitais! Será que esta mentalidade ágil dos governantes reverbera? Afinal, encontrar e lidar com as finanças, rapidamente e sem deixar margens para fraudes, de milhões de pessoas que não possuem vínculos formais com o Governo e nem com nenhuma empresa é uma tarefa ‘hercúlea’.
Apesar de todos sabermos que existe a parcela de cidadãos que precisam desta ajuda, não havia uma lista de quem são. Mesmo assim, em apenas uma semana, foi lançado o aplicativo Caixa Auxílio Emergencial para cadastramento destas pessoas, que somente no primeiro dia já recebeu cerca de 18 milhões de cadastros.
Deixando a politicagem de lado, as pessoas do universo de Tecnologia da Informação têm ciência da dificuldade na concepção e elaboração de um aplicativo como esse, que vai desde o desenvolvimento do aplicativo até seu lançamento nas plataformas digitais, passando também pela infraestrutura necessária para suportar milhões de acessos e combater os inevitáveis ataques de hackers.
Programas como esse, que utilizam a tecnologia ao invés da presença física, reforçam o pensamento do quão ‘absurdo’ é sair de casa e entrar em filas para lidar com trâmites burocráticos como documentações, mesmo em épocas não pandêmicas. Por outro lado, este cenário está ‘superado’ no âmbito das compras e, principalmente, da alimentação.
Nos últimos meses não houve novidade lançada pelos aplicativos de entrega, a diferença ocorreu pelo lado da demanda, na necessidade de consumo das pessoas, que expandiram suas compras habituais de restaurantes, supermercados e farmácias físicas para a modalidade virtual. Neste caso, não foi a tecnologia que precisou se adaptar ao isolamento, mas, sim, as pessoas que, devido à necessidade, descobriram a conveniência das entregas.
Este cenário pandêmico sem precedentes que demandou agilidade e mudanças das pessoas, empresas e sociedade como um todo, também nos catalisou cada vez mais ao ambiente digital. Porém, na retomada das atividades, as demandas serão outras e, talvez, potencializadas. No pós-crise, o que será necessário para sobreviver?
Afinal, não estávamos preparados para um isolamento dessa magnitude, mas será que estaremos preparados para as novas mutações sociais após o Covid?
(*) – É gerente do Digital Lab da Engineering, companhia global de TI e Consultoria especializada em Transformação Digital (www.engdb.com.br).