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A mulher de Cesar

em Opinião
quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Heródoto Barbeiro (*)

O público espera que os jornalistas saibam que a sua mais importante obrigação é a verdade.

Realmente ela não é absoluta, difere do entendimento de cada um, mas pressupõe que todos estejam imbuídos da boa fé. No clássico futebolístico do final de semana, disputado entre os barrigudos contra os magrelas do que sobrou da redação nestes tempos de tecnologia, a falta na entrada da grande área pode ser narrada como um pênalti por um e como uma catimba por outro jornalista presentes na cobertura da peleja.

Em um episódio tão importante como esse o público fiscaliza a mídia e se os profissionais de imprensa para saber se se apoiaram em fatos e verificações, devidamente contextualizados, se o interesse público que está em jogo, se há justiça com os protagonistas e ufa…. transparência. Não se admite que jornalista cubra o jogo vestido com a camisa de um dos pugnantes. Afinal, diz o proprietário da chácara Mahayana, a mulher de Cesar não basta ser honesta.

Os jornalistas sabem que as palavras que funcionam na comunicação não são as que ele escreve, mas o que o venerável público entende. Por isso capricham em tentar entender como age, pensa quais são os interesses e os sonhos do seu público alvo. Não julgam os jogadores da pelada pelo que pensa o adversário, o coro da torcida pela mãe do árbitro, do estado do gramado, da rainha da bateria na arquibancada e outros protagonistas do espetáculo.

Julgam pelo que fazem os bravos jogadores em campo. Avaliam se todos atuam de uma maneira limpa ou não, se respeitam ou não o código de ética do time que jogam ainda que os craques em campo sabem que, eticamente, cada um representa a si mesmo. Mas não custa lembrar que há limites tanto na profissão como nas jogadas perigosas na boca do gol, uma vez que o fantasma dos sete a um contra a Alemanha ainda teima em vagar entre uma e outra árvore da reserva florestal protegida.

A torcida que superlota as beiradas do campinho de futsal do sítio de final de semana, não perdoa ninguém. Nem jogadores, nem o árbitro, nem os jornalistas que cobrem a porfia. Estes são vaiados e muitas vezes ganham apelidos inusitados. Uns se revoltam, afinal estão lá exercendo a sacro santa profissão de informar aos demais convidados para a reunião, e que pilotam as costelas na churrasqueira, o que acontece no futebol.

Não se conformam que na esfera pública não donos nem da própria imagem, e para atenuar a polêmica tomam mais uma geladinha. Esquecem que alguns derrapam no sensacionalismo e exageram ora na furada do centro avante na cara do gol, ora na entrada violenta que o zagueiro deu no ponta direita.

O fato é que com o advento do zapzap os jornalistas perderam o controle do que se passa em campo e um monte de penetras também publicam lances da partida e todos os que aproveitam a festa de final de semana percebem aquele barulhinho que avisa que chegou uma nova mensagem. Essa miríade de informações, versões, opiniões, tudo com foto e vídeo só esquentam o ambiente. Felizmente, fecham-se as cortinas e termina o espetáculo, minha gente, como dizia o Fiori.

Todos, jogadores, torcedores, jornalistas e penetras se juntam em uma verdadeira batucada brasileira onde o mestre sala é o Tio Sam que toca uma frigideira.

(*) – É âncora e apresentador do Jornal da Record News e editor do blog no R7 ([email protected])