Benedicto Ismael Camargo Dutra (*)
A humanidade está sendo movida principalmente pelo mundo virtual das imagens em que predominam os aspectos negativos e cruéis do comportamento.
Tudo converge para um facho mediocrizante de pouca luz. Os pensamentos permanecem nessa mesma sintonia, sempre atraindo a igual espécie. Tudo ao redor fica opaco e confuso, aumentando a incerteza na mente das pessoas, e tudo vai caindo no imobilismo com a acomodação na desesperança de melhor futuro.
Para criar um mundo sustentável, temos de modificar a base das motivações e dos pensamentos. A antropóloga Melinda Davis, em seu livro A Nova Cultura do Desejo, tenta compreender melhor a nossa civilização e prever para onde iremos nas próximas décadas. Ela descreve como se processam os mecanismos de sedução e persuasão que desvendam os desejos mais íntimos para o exercício da influência e controle.
Imagens e sons vão se infiltrando na mente; a influência externa avança através da mente, motivando os desejos e o comportamento. Além disso, também ocorre a interferência procedente do invisível mundo dos pensamentos, pois conforme a espécie do querer mais íntimo, são efetuadas conexões com a igual espécie, que podem influenciar poderosamente na tomada de decisões e no comportamento se a pessoa não estiver bem vigilante ao que se passa no seu íntimo através de análises e reflexões.
Um exemplo é o da pessoa que vai ao cinema e dentre os filmes disponíveis escolhe Creed, nascido para lutar, com Stallone, intérprete do famoso Rock Balboa. As imagens apresentam violência que explode num cenário de mediocridades, vida vazia e rasteira, sem apresentar propostas elevadas. O jovem Adonis Creed tem ódio no coração que extravasa em brigas. A multidão aplaude as lutas como algo especial na monotonia de suas vidas, mas estas são quase iguais às lutas nas arenas dos gladiadores.
São pessoas se esmurrando com violência, danificando os neurônios que, com o tempo, tendem para a demência. No entanto, os lutadores recebem aplausos e vaias, e às vezes, muito dinheiro, sem terem dado a mínima contribuição para a melhora das condições gerais de vida, numa absoluta demonstração da inversão dos valores. Se a pessoa tiver discernimento, vai perceber que o filme não lhe acrescentou nada. O mais provável é que não perceba isso e saia da sala carregando na mente os resíduos do que viu e ouviu, que como tantas outras coisas, irá moldar o seu querer e os seus pensamentos.
Sem reflexões e vigilância, o eu interior vai enfraquecendo, permitindo que o cérebro seja invadido pelas imagens e sons externos. Bombardeado de todas as formas, nosso cérebro está atuando além dos limites. Forte pressão invasora afeta a psique humana sobrecarregando nossos pensamentos com insatisfação, ódio e desesperança. Desejos vão sendo implantados enquanto a vida transcorre no ambiente acanhado das coisas menores da vida. Falta a alegria do encontro pelo encontro.
O cérebro frontal tem sido programado para permanecer conectado ao negativismo, bloqueando a conexão intuitiva com a espontânea alegria de viver. Angustiadas, as pessoas deixam de ouvir a voz interior, a própria intuição, uma breve percepção de algo que devemos reter, antes que inúmeras interferências tentem apagá-la. O sono reparador concede o necessário descanso ao cérebro, mas tem sido dificultado pela agitação desta era de turbulências.
A ansiedade, o nervosismo, a insatisfação e o descontrole emocional são altamente prejudiciais para o ambiente e para os que estão próximos, mas também causam danos nos neurônios, o que vai se manifestar mais tarde através do mau funcionamento do cérebro. No entanto, como as crianças, temos de alcançar o sereno estado da espontânea alegria de viver, fazendo o que gostamos, gostando do que fazemos, sem perder de vista o nosso propósito de vida e nosso alvo elevado.
(*) – Graduado pela FEA/USP, realiza palestras sobre qualidade de vida. Coordena os sites (www.vidaeaprendizado.com.br) e (www.library.com.br). Autor de: Conversando com o homem sábio; Nola – o manuscrito que abalou o mundo; O segredo de Darwin; 2012…e depois?; Desenvolvimento Humano; e O Homem Sábio e os Jovens ([email protected]).