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A importância da governança corporativa em empresas familiares

em Opinião
terça-feira, 14 de agosto de 2018

Claudio Mazzaferro (*)

Para uma empresa que acredita e pratica a governança, não existe agenda oculta.

De acordo com o IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), governança corporativa é o sistema pelo qual as empresas e demais organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre sócios, conselho de administração, diretoria, órgãos de fiscalização e controle e demais partes interessadas.

Segundo a instituição, as boas práticas de governança corporativa convertem princípios básicos em recomendações objetivas, alinhando interesses com a finalidade de preservar e otimizar o valor econômico de longo prazo da organização, facilitando seu acesso a recursos e contribuindo para a qualidade da gestão da organização, sua longevidade e o bem comum.

Isso quer dizer que, para uma empresa que acredita e pratica a governança, não existe agenda oculta. A transparência faz parte do cotidiano. A prestação de contas se torna elementar, um marco zero na empresa. A responsabilidade corporativa vai além, podendo levar em consideração a perpetuidade da mesma sob o ponto de vista econômico, social e ambiental.

Meu contato com o tema se deu em 1999, quando a Mazzaferro, uma empresa familiar que é referência no ramo de nylon, iniciou o processo de sucessão para a segunda geração contando com o apoio do IBGC. No início, os sócios eram apenas dois, o fundador e sua esposa. Hoje são 18 e seria preciso criar instrumentos capazes de preservar os direitos deles, bem como a perfeita continuidade da empresa. Desde então, nos tornamos um case já apresentado em vários lugares do Brasil.

Planejamento foi a palavra chave para esse processo. Atuamos nas três dimensões da governança: família, negócio e propriedade. Os desafios foram grandes. Nem sempre as famílias proprietárias de empresas com capital fechado estão preparadas técnica e psicologicamente para implementar um sistema de governança corporativa. O fundador, normalmente, não gosta de enfrentar assuntos relacionados à formalização da empresa, testamento, segregação de assuntos relativos à família dos assuntos relativos ao negócio, e de ter total transparência na condução econômica.

A Mazzaferro teve a coragem e a sorte de iniciar este processo em 1999, muito antes do falecimento do fundador, Nello Mazzaferro, em 2012. A empresa continuou operando sem nenhuma descontinuidade ou questionamento por parte dos sócios herdeiros ou qualquer outro stakeholder. Os benefícios foram muitos, como a perpetuação dos valores, a harmonia entre os familiares, a tranquilidade no processo sucessório, a gestão do capital e, principalmente, a continuidade do negócio.

Nesse sentido, além da profissionalização da gestão e da implementação de um código de conduta, a criação de um conselho foi fundamental. É preciso contar com profissionais competentes, independentes e remunerados. Cerca de 70% do tempo do conselho hoje é destinado a assuntos estratégicos e os outros 30% a assuntos de natureza tática. Há uma agenda anual predefinida que aborda a revisão da estratégia, deployment da mesma, orçamento, gestão de talentos, gestão de riscos, entre outros. Os conselheiros têm livre acesso aos executivos e aos dados da empresa e também são avaliados pelo chairman.

A caminhada exige esforço, mas reserva muitas recompensas. O sistema de governança corporativa faz a empresa ser completamente transparente em todos os níveis, facilitando a relação entre todas as partes envolvidas.

Ganha a empresa, a comunidade e, logicamente, a família, que se vê livres de conflitos.

(*) – É CEO da Mazzaferro Monofilamentos, palestrante e conselheiro certificado pelo IBGC.