Eduardo Küpper (*)
O ambiente empresarial brasileiro está se transformado rapidamente, alicerçado na tecnologia.
Uma década atrás, quando a revolução dos smartphones dava os seus primeiros passos no país, empreender era um processo difícil e demorado. Poucos se arriscavam em abrir uma companhia, e havia dúvidas quanto a requisitos básicos, como montar um servidor ou desenvolver uma rede corporativa. Serviços como o Uber e os aplicativos de táxi estavam longe da realidade.
Quem detinha capital preferia concentrar seus investimentos em ativos mais tradicionais e seguros, como imóveis. Hoje, embora o ambiente permaneça desafiador, a situação mudou bastante. O país oferece condições bem mais favoráveis para quem deseja empreender, e os profissionais estão mais preparados para isso, entendendo melhor o ciclo de abertura e maturação de um negócio. Portanto, está mais fácil para quem deseja investir; o investimento de risco está bem mais difundido.
As empresas e empreendedores adquiriram mais maturidade, pois foram se integrando às transformações capitaneadas pelo desenvolvimento tecnológico. Se há 10 anos praticamente não havia especialistas em marketing online, por exemplo, hoje esses profissionais podem ser encontrados, já que se formaram ao longo do tempo.
Se há cinco anos os serviços oferecidos por meio de aplicativos eram uma novidade e o país ainda não estava pronto para lidar com suas especificidades, como pagamentos, relacionamento com consumidores, legislação etc., hoje esses serviços foram assimilados pelo mercado.
Portanto, se as condições para empreender melhoraram, é de se esperar que o risco percebido diminua e que mais capital, de fato, chegue às empresas. Afinal, com um mercado mais prolífico, há menos chance de dar errado e o risco inerente diminui. Sucessos recentes também deixam os investidores mais animados, pois saídas bilionárias, IPO e grandes M&As têm se tornado notícias recorrentes, e esse panorama deve se manter nos próximos anos.
Existe uma corrente que acredita que existe capital demais no mercado, e que faltam boas ideias. Talvez a situação não seja exatamente essa. Existe sim muito capital disponível, entretanto há diversas ideias boas que não conseguem se financiar. Há alguns motivos para isso. Primeiro é que independente de a ideia ser boa ou não, ela, mesmo que implicitamente, tem que respeitar a curva de risco e retorno, ou seja, tem de remunerar o detentor atual do capital pelo risco em que ele está incorrendo.
O empreendedor que conseguir passar mais segurança sobre a estabilidade de seu empreendimento e suas projeções de resultados pode parecer como algo de risco menos elevado e, assim, fazer com que o investidor tenha apetite para investir. O retorno esperado pelo investidor também varia muito. Um investidor institucional (profissional) espera retornos muito maiores que outros investidores menos sofisticados e utiliza estratégias distintas para ter sucesso.
Dito isso, hoje existe uma infinidade de opções para financiar a empresa e o empreendedor médio muitas vezes não as conhece ou não consegue se preparar adequadamente para consegui-las. No entanto, hoje as startups bem estruturadas podem lançar mão de diversas fontes. Investidores anjo (pessoas físicas), investimento direto ou por meio de plataformas, institucionais (desde estágios bem embrionários), capital de subvenção e empréstimos subsidiados e não subsidiados são as alternativas mais comuns embora ainda existam outras.
Há toda uma nova classe de investimento (venture capital/ capital de risco) que vai se tornando mais conhecida. Novos investidores passam a se aventurar nelas. O empreendedor hoje não pode reclamar que não tem acesso a capital. O ambiente está muito melhor do que antes e deve continuar evoluindo.
Vivemos uma era de ouro de investimento de risco, e quem estiver preparado vai se deparar com um amplo leque de possibilidades.
(*) – É MBA pela Wharton Business School e MA em Estudos Internacionais pelo The Lauder Institute, na Universidade da Pensilvânia e Co-fundador da Wharton Alumni Angels Brasil ([email protected]).